Para responder a essa pergunta, vamos com uma definição do Centro de Negócios Sustentáveis da Universidade de Nova York (NYU Stern):
“Materialidade, em sustentabilidade, é uma questão econômica, ambiental ou social sobre a qual uma empresa gera impacto ou pela qual pode ser impactada – e que influencia significativamente as avaliações e decisões das partes interessadas.”
Trata-se de um conceito fundamental para orientar, por exemplo, a construção do relatório de sustentabilidade de uma empresa. Como boa prática, neste contexto, é desejável que a companhia relate as questões relevantes (ou “materiais”) que impactam diretamente sua capacidade de gerar, manter – ou mesmo erodir – valores econômicos, ambientais e sociais para si mesma, para os stakeholders e para a sociedade em geral.
É importante distinguir o conceito de materialidade referente a relatórios financeiros e o referente à sustentabilidade:
- Na materialidade “financeira”, uma informação é relevante (material) se sua omissão ou distorção nas demonstrações financeiras da empresa tiver o potencial de influenciar decisões econômicas da companhia;
- A materialidade “sustentável”, como já mencionamos, identifica os temas que podem ter repercussão significativa na empresa (positiva ou negativa) em termos de ESG.
MATERIALIZANDO O CONCEITO
Considere uma fabricante de bebidas. Para qualquer que seja ela, a água é uma questão material, já que a produção depende de um suprimento consistente – e barato – deste recurso.
Contudo, como outras pessoas são abastecidas por esses mesmos recursos hídricos, pode haver pressão de stakeholders caso a empresa atue próxima a comunidades com dificuldades de acesso à água.
Logo, a escassez de água passa a ser uma questão material para a fabricante de bebidas porque:
– As vendas e a lucratividade da empresa estão condicionadas à abundância e baixo custo do recurso;
– As atividades produtivas da empresa podem impactar na disponibilidade do recurso para a comunidade ao redor;
– Stakeholders podem expor sua preocupação com a escassez de água e cobrar a empresa por políticas referentes ao tema.
QUAL O FUTURO DA MATERIALIDADE?
Com o avanço e consolidação da agenda ESG nas empresas, é cada vez mais comum que elas divulguem relatórios de sustentabilidade – na União Europeia, toda corporação com mais de 500 funcionários precisa reportar os resultados relativos à promoção de diversidade, de direitos humanos, de políticas anticorrupção etc.
E, como já vimos, a materialidade é o fundamento que possibilita identificar os aspectos que devem ser mantidos ou melhorados, sobre os quais se constróem as metas e as métricas ESG que compõem os relatórios de sustentabilidade.
Algumas tendências em relação à divulgação de resultados ESG são:
• Demanda crescente por transparência
A fim de divulgar, pública e constantemente, como a organização resolve seus desafios materiais;
• Novos formatos de divulgação
É comum que empresas enfrentem o desafio de publicar relatórios que não sejam somente um grande volume de dados apresentados de maneira pouco atraente e de difícil leitura. Se a materialidade for usada como ferramenta para orientar estratégias e não somente para “relatar por relatar”, os dados certamente serão mais concisos e relevantes, indicando os desafios em sustentabilidade mais relevantes;
• Maior demanda por parte dos investidores
Atualmente, nos Estados Unidos, a cada quatro dólares investidos, um dólar é investido com foco em ESG. Esse movimento faz com que cada vez haja mais investidores solicitando informações sobre as práticas das empresas em sustentabilidade. Como resultado, as companhias ficarão cada vez mais focadas em identificar tópicos materiais, em desenvolver estratégias para abordá-los e reportar os progressos em relação a eles;
• Mais regulação e desafios legais
Empresas que não divulgarem riscos ESG em seus relatórios, causando prejuízos a seus investidores, serão cada vez mais cobradas legalmente por essa omissão. As regulações governamentais também tendem a aumentar conforme novas questões materiais em sustentabilidade forem identificadas. Este cenário também aponta para uma progressiva compreensão, por parte dos investidores, de que bons resultados ESG estão ligados a melhores resultados financeiros;
• Padronização
Diferentemente dos relatórios financeiros das empresas, os relatórios de sustentabilidade não são regulados nem obrigatórios. Logo, cada empresa sente-se à vontade para desenvolver metodologias próprias para elencar seus desafios materiais. Conforme mais organizações divulgam seus relatórios, a tendência é que determinadas metodologias se consagrem, tornando-se padrão – importante para stakeholders e investidores compararem performances entre empresas, inclusive;
• Relacionamento mais próximo com os stakeholders
Quanto maior for a comunicação e colaboração com grupos interessados nas atividades das empresa, mais fácil se torna a identificação dos temas materiais. A promoção do diálogo, com a empresa expondo seus desafios para as partes interessadas e ouvindo o que elas consideram mais relevante, contribui para que os objetivos comuns sejam alcançados;
• Relatórios de sustentabilidade ligados à performance financeira
Atualmente, metas ESG, como redução de emissões de gases estufa e maior diversidade, por exemplo, não são atreladas a indicadores financeiros. A tendência é que, num futuro próximo, os resultados ESG da empresa sejam precificados, indicando o valor financeiro que eles geram para o negócio. Esse movimento é fundamental para avaliar quanto o empenho corporativo em planejar e executar estratégias em sustentabilidade tem dado retorno para empresas e investidores.
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