Toda boa ação importa. Com esse olhar, a Papirus, produtora de papelcartão para embalagens, desenvolve uma agenda de trabalho comunitário dentro e fora de sua fábrica, no interior de São Paulo. Para a empresa, o “S” da sigla ESG significa cuidar primeiro das pessoas que estão mais perto.
O DNA transformador da empresa, expresso na vocação em produzir papel de alta qualidade com matéria-prima reciclada, se estende também à preocupação com o bem-estar das comunidades de Limeira (SP) e Americana (SP), cidades próximas à fábrica da Papirus. Há mais de dez anos, a companhia contribui com instituições e mantém-se alerta para problemas de localidades próximas, onde muitas vezes estão as famílias dos funcionários.
“Nós doamos mais de 4.000 cestas básicas na pandemia. Os funcionários às vezes podem ter um vizinho, um familiar em situação de vulnerabilidade. Estamos em uma área rural, e nos sítios desta região moram cerca de 200 pessoas, com uma escola primária. Nesta escola, vamos começar um projeto de educação ambiental em 2023. Isso é uma extensão dos benefícios que damos aos funcionários, é alcançar a família dele, a comunidade dele”, comenta a gerente de recursos humanos da Papirus, Andréia Paparotti.
Em 2022, foram realizadas ações de doação, upcycling (transformando uniformes usados em cobertores para hospitais, e banners em ecobags) e eventos culturais. O bem-estar dos funcionários é prioridade, com gestão preocupada em proporcionar um clima de acolhimento. “A Papirus não atua sozinha. É importante proporcionar crescimento ao colaborador, para que ele seja um cidadão diferenciado, que gere impacto positivo com o conhecimento que ele adquire conosco e possa fazer uma retribuição a quem nunca teve uma oportunidade”, afirma o co-CEO e diretor industrial da empresa, Antonio Pupim.
O bem-estar na fábrica acompanha um crescimento constante nos últimos dois anos, quando a Papirus vendeu toda a sua produção de papel. Em 2022, previsões apontam um crescimento de receita de 38% e faturamento de R$ 750 milhões.
A pandemia da Covid-19 foi um grande teste para o setor de recursos humanos, como detalha Paparotti. “Tivemos um encontro com o sr. Dante [Ramenzoni, fundador da Papirus] e ele falou o quanto estava feliz por não ter perdido nenhum funcionário na pandemia. Foi um grande momento de cuidado na empresa. Eu fui a guardiã da Covid, tivemos funcionários infectados e mandamos oxímetro para a casa deles, falávamos duas vezes por dia com esses funcionários. Fizemos parceria com laboratórios para agilizar exames para o profissional e a família, um trabalho de cuidar e proteger as pessoas. Os colegas brincam que não podia passar rouco perto de mim que eu mandava testar.”
CATADORES GANHAM CORES E IMPULSO NO TRABALHO
O trabalho com o projeto Pimp My Carroça, que desde 2007 reforma e pinta com arte gráfica os veículos de catadores por todo o país, enche as ruas de cores. Nas primeiras edições da parceria com a Papirus, em 2021 e 2022, catadores das cidades vizinhas à sede da empresa ganharam uma reforma geral de seus carrinhos. Primeiro, uma parada na serralheira, para ajustes na carroceria e um reforço na estrutura. Em seguida, artistas gráficos fizeram uma pintura personalizada, encomendada pelos catadores, deixando as carroças “tunadas”, como diz a gíria dos aficionados por carros modificados.
O impacto positivo na vida destes profissionais, essenciais para o desempenho da reciclagem de papel, foi enorme. Uma carroça em perfeito estado gera mais respeito ao catador, que passa inclusive a ter acesso a locais onde antes não teria a entrada permitida, como condomínios.
“O catador é invisível para a sociedade. Nos trabalhos que fizemos, vimos que as pessoas se sentem vistas, valorizadas com a carroça reformada. Encontrei outro dia um catador que participou do programa, ele estava trabalhando vestido com equipamento de proteção, e a carroça bonita. Me disse que as pessoas tratam ele melhor, separam o lixo esperando ele passar”, conta Paparotti. Em 2023, mais ações com o Pimp My Carroça estão previstas.
“Com a reciclagem, eu pago meu aluguel, minha água, luz e internet”, afirma a catadora Priscila Alves, de 43 anos, que participou do programa em 2022. Ela diz que há mais serviço após a reforma, pois o carrinho grafitado virou uma marca registrada, que faz com que as pessoas a identifiquem em Limeira (SP), onde trabalha.
O engajamento com a reciclagem passa também pela educação sobre o assunto, e Alves conta que não perde a chance de esclarecer as pessoas sobre sua atividade. “Uma vez, uma moça falou que tinha lixo para me dar. Com todo respeito, expliquei que não sou catadora de lixo. Fazemos reciclagem, são materiais que têm valor.”
Eu quero criar um canal para explicar para as pessoas o que são os recicláveis, os tipos de papel, de plástico. Tem gente que ainda descarta materiais com comida, não pode. Quero também ter a minha reciclagem e empregar meninas, mães.
Priscila Alves, catadora
Além do impacto social, estrategicamente a ação é também um incentivo à economia circular, como destaca Pupim. “Nós enxergamos esse programa como forma de valorizar e incentivar o destinamento correto de recicláveis, inclusive não só do papel. Todo o material descartado que for possível reciclar, que tenha o destino correto para deixar de poluir o meio ambiente, assoreando rios, entupindo galerias das cidades, deve ser aproveitado. É uma ação de recuperar e regenerar este trabalho dos catadores, e também de zelo pelo patrimônio público.” Atuando como parceira da comunidade, a Papirus se compromete com o bem-estar social em seu entorno, provando que ESG pode ser muito mais do que uma sigla e grandes números.
LAR DE IDOSOS VIRA PARCEIRO DE NEGÓCIO
A mesma dedicação se estende às instituições parceiras e programas patrocinados pela empresa. No Lar dos Velhinhos São Vicente de Paulo, que abriga idosos de Americana (SP), são diversas as parcerias. Em 2022, o que antes eram doações virou modelo de negócio: as embalagens de remédios são um papel de qualidade para reciclagem, pois costumam ser descartados limpos. A partir de uma proposta da Papirus, o lar começou a juntar caixinhas, que são compradas pela empresa para reaproveitamento, compondo posteriormente os produtos Vitacycle e Vitacarta, que utilizam 40% de sua matéria-prima de papel reciclado.
“Já compro metade do leite do mês vendendo papel para a Papirus reciclar. Queremos expandir muito mais”, conta Elis Regina Silva, presidente da instituição. Pontos de coleta foram colocados em outros locais da cidade, como supermercados e farmácias, e assim o Lar dos Velhinhos vai crescendo como mais uma peça da economia circular, dando impulso à reciclagem de papelcartão. Em quatro meses de trabalho, foram quase 700 kg de material, e outros lares de idosos já manifestaram interesse em se tornar fornecedores.
Na pandemia, às vezes testávamos 80 pessoas, entre internos e funcionários, com a ajuda da Papirus. Isso salvou vidas.
Elis Regina Silva, presidente do Lar dos Velhinhos São Vicente de Paulo
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