Plástico é aquele tipo de material que, a esta altura de emergência climática que o planeta vive, já deveria estar como os dinossauros: extintos. Entretanto, como a humanidade parece não saber viver mais sem este material, a melhor saída são os bioplásticos. A brasileira ERT (Earth Renewable Technologies) se orgulha de ser hoje a maior produtora de bioplástico da América Latina. Seu produto é feito à base de cana-de-açúcar e é compostável – isso significa que seu ciclo de vida é circular.
Após ser descartado e sob as condições ideais de compostagem (umidade, calor e microrganismos), se transforma completamente em matéria orgânica, ou seja, em adubo para plantas. Mesmo que vá parar em um aterro, como ainda acontece com parcela considerável do lixo no Brasil, testes demonstraram que ele é capaz de se degradar em 90 dias.
Isso acontece com qualquer plástico que se diz “ecológico”? Definitivamente, não. Se o material for oxibiodegradável, por exemplo, esqueça. Neste caso, um aditivo químico – já proibido em grande parte do mundo, mas ainda não no Brasil – é adicionado ao plástico comum para microfragmentá-lo. A olho nu, ele parece sumir ao fim de seu ciclo de vida, mas, na verdade, se transforma nos temidos microplásticos, um dos principais poluentes dos oceanos. Ou seja: a intenção pode ser boa, mas o resultado é catastrófico.
A HORA E A VEZ DO BIOPLÁSTICO
Apesar de sermos o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo, segundo a ONG World Wide Fund for Nature, apenas 1,2% desse material é reciclado. Nesse contexto, Gabriela Gugelmin, diretora de estratégia e sustentabilidade na ERT, explica a importância e o potencial do bioplástico:
“O bioplástico com fim compostável é a solução ideal para plásticos de uso único, como sacolas de supermercado e copos, pratinhos e talheres descartáveis, que não contam com uma cadeia de reciclagem apropriada e, portanto, não são reaproveitados.”
Empresas como a produtora de sacos e sacolas de lixo Embalixo e a rece de lavanderias 5àsec já entenderam o recado e fecharam parcerias com a ERT. A primeira lançou a linha Zero Plástico, feita com o bioplástico, e a segunda já substituiu suas sacolas plásticas por versões fabricadas com o material. Com isso, espera-se retirar até 200 toneladas de plástico do meio ambiente por ano.
Fundada em 2009, dentro da Clemson University (Estados Unidos), universidade norte-americana com tradição em estudos com polímeros, com a missão de substituir embalagens plásticas por materiais compostáveis, a ERT patenteou a tecnologia SFRP (Short Fiber Reinforced Polymer), que potencializa o desempenho de biopolímeros. Dez anos mais tarde, recebeu investimentos de um grupo brasileiro que enxergou o potencial da tecnologia no mercado nacional – ainda incipiente.
Desde que a primeira fábrica foi instalada no Brasil, em Curitiba, a empresa já cresceu 15 vezes. Hoje tem capacidade para produzir 3.500 toneladas por ano de bioplástico, o que a torna a maior fabricante da América Latina, também exportando para Europa e Estados Unidos – Brasil e América Latina representam 30% do faturamento cada e o resto do mundo responde por cerca de 40%.
Este ano, com o investimento de R$ 32 milhões recebido da Positivo Tecnologia, por meio de Fundo de Investimento de Participações (FIP), deve inaugurar em Manaus uma nova unidade, que promete centralizar pesquisas para o desenvolvimento de novas tecnologias e escalar ainda mais a produção.
“A fábrica de Manaus ampliará nosso alcance no Brasil por dois fatores: estaremos próximo dos transformadores de plástico e, pelos incentivos fiscais da região, nosso material terá um preço muito mais interessante, permitindo a conversão de mais clientes mais rapidamente.”
Embora legislações nacionais sejam uma tendência natural, e países como China, Chile e da Europa já contem com as suas, exigindo que plásticos de uso único sejam de bioplástico compostável, por aqui a ideia é aproveitar as regras municipais que pipocam com mais rapidez. Manaus, Marília e Bombinhas são exemplos de cidades que já exigem que as sacolas de supermercado sejam compostáveis. Como vivemos literalmente sob uma montanha de plástico, nos dias de hoje, não se trata mais de uma tendência e sim de uma urgência.
Deixe um comentário