Vida Veg compra polpa de coco que seria descartada por fornecedores para produzir alimentos 100% vegetais

De olho na economia circular e no impacto de sua produção, a Vida Veg – foodtech que fabrica alimentos plant based como alternativa aos lácteos – decidiu passar um pente fino nas suas matérias-primas. O primeiro a entrar na roda foi o coco, que é usado como base da manteiga, carro-chefe de vendas da marca. Quem conta é Álvaro Gazolla, sócio-fundador da empresa: “Compramos quase 100 toneladas de castanha e coco por ano. Nosso fornecedor é produtor de água de coco no Ceará, então eles usam a água e descartariam o coco. Nós aproveitamos a polpa desse coco”.

Esta iniciativa faz parte de uma estratégia central de redução de emissões da empresa, que já foi criada pensando em um modelo de negócio de menor impacto. Seu portfólio hoje conta com cerca de 40 alimentos 100% de origem vegetal. São iogurtes, queijos, manteigas, cremes, requeijões que utilizam castanhas e coco como base.

Ao trocar um produto lácteo por um plant based, a diminuição do impacto é automática: pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, mostraram, por exemplo, que a produção de um copo de leite de vaca gera quase três vezes mais emissões de gases do efeito estufa do que qualquer alternativa vegetal. Eles apontam ainda que a produção de um copo de leite de vaca para todos os dias de um ano requer 650 metros quadrados de terra – o equivalente a duas quadras de tênis e mais de dez vezes o necessário para a mesma quantidade de leite de aveia. Portanto, a Vida Veg nasceu sustentável. Mas só isso não basta.

“A gente se desafia a fazer mais. Temos um modelo de gestão que vai desde o chão de fábrica até as decisões de governança em que a sustentabilidade vem em primeiro lugar. Já nascemos zerando carbono, compensando embalagens plásticas, por exemplo, mas nossa meta é reduzir consumo”, explicou Arlindo Curzi, sócio-diretor da Vida Veg.

Arlindo Curzi, sócio-diretor da Vida Veg

JORNADA DE REDUÇÃO

Reduzir é uma palavra de ordem na Vida Veg. Segundo Curzi, compensar faz parte, claro. Mas tem que reduzir: plástico, água, energia, consumo. A empresa acaba de ampliar sua unidade fabril em Lavras (MG) partindo de uma área de 960 m² de área construída, e passando para 3000 m². Com isso, sua capacidade produtiva quintuplicou, saindo de 200 toneladas de alimentos por mês passando para 1.000 toneladas por mês.

Apesar de toda esta ampliação, tudo foi desenhado para a redução de consumo de energia, com placas de luz natural e zero perda térmica na câmara fria. Em seis meses, a energia elétrica foi reduzida em 20% e a água em 15%.

“É no chão de fábrica que o impacto começa. Por isso é preciso investir em treinamento. Por exemplo: se o colaborador empurrar a sujeira com a mangueira, a água vai embora. O pessoal da manutenção tem que verificar vazamentos diariamente. É uma virada de mindset e, desta forma, temos multiplicadores. Para que a sustentabilidade não fique só na compensação. Não adianta crescer e compensar na mesma medida. Tem que reduzir.”

LIDERANÇA NO SEGMENTO

A Vida Veg foi fundada em 2015 e hoje é líder nacional em produtos fresh plant based. A empresa está presente em mais de 6 mil pontos de venda em todo o país e tem dobrado de faturamento ano a ano no pós-pandemia. “Saímos de um faturamento de R$ 9 milhões, em 2020, para R$ 20 milhões em 2021, depois para R$ 42 milhões no ano passado. Para este ano estamos projetando chegar a aproximadamente R$ 100 milhões”, declarou Álvaro Gazolla.

Este segmento tem chamado a atenção do mercado. Uma pesquisa liderada pela Bloomberg Intelligence mostra que o mercado mundial de produtos plant based deve crescer de US$ 29,4 bilhões em 2020 para US$ 162 bilhões (aproximadamente R$ 847,9 bilhões) em 2030, o que corresponde a 7,7% do mercado mundial de proteínas. O estudo apontou ainda que, até o fim desta década, o mercado global à base de plantas pode crescer até cinco vezes. “Nosso crescimento surge de uma demanda latente no mercado brasileiro”, resumiu Gazolla.


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