Após os desastres de grandes proporções, como o ocorrido recentemente no Rio Grande do Sul, que matou 47 pessoas até o dia 12 de setembro, é natural que diversos setores da sociedade se questionem sobre o que poderia ter sido feito para evitar tal calamidade. Além disso, também é legítima a indagação sobre os papéis e responsabilidades do poder público, empresas e sociedade frente ao ocorrido.
No caso da região Sul do País, todos os anos recebemos diversas notícias de diferentes desastres naturais, que compreendem, por exemplo, riscos do grupo climatológico como tornados, granizo, vendavais e ciclones, além dos riscos do grupo hidrológico, tais como inundações, enxurradas, alagamentos e chuvas intensas.
Segundo dados do Atlas Digital de Desastres no Brasil, ferramenta para consulta e análise de desastres no país (que leva em consideração os dados oficiais da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil), entre 2017 e 2022, somente no Estado gaúcho foram registradas 893 ocorrências, 17 óbitos e 80 mil desabrigados e desalojados. Isso, em um universo de mais de 3 milhões de pessoas afetadas, com cerca de R$ 1,3 bilhão em danos totais e quase R$ 6 bilhões em prejuízos.
Diante da magnitude e severidade dos desastres que atingem o Sul do país, fica evidente que a solução para a mitigação de tais riscos não seja apenas de responsabilidade dos órgãos de proteção e da Defesa Civil, mas de uma iniciativa mais ampla.
Nesse sentido, ao passo que os desastres naturais avançam e são problemas recorrentes, a adoção de práticas sustentáveis de manejo empresarial tem ganhado cada vez mais espaço no Brasil. Isso porque tanto as empresas como as respectivas cadeias de suprimentos estão expostas a uma grande diversidade de eventos adversos, os quais podem afetar a continuidade das operações. Por isso, o uso de critérios ESG (Ambiental, Social e Governança) por empresas, apesar de não ser algo novo, começou a se popularizar significativamente nas últimas duas décadas.
Foi somente nos anos 2000 que o termo “ESG” começou a ser usado de maneira mais formal para abordar essas questões em conjunto, uma vez que os investidores institucionais começaram a reconhecer a importância de avaliar empresas com base nesses critérios para identificar riscos e oportunidades.
Deste ponto em diante, o termo ganhou destaque no mundo empresarial, com um número crescente de fundos de investimento e empresas incorporando os critérios em suas estratégias. Além disso, agências de classificação de risco e índices de ESG foram desenvolvidos para avaliar o desempenho das organizações nessa agenda.
É importante ressaltar que o ESG não age diretamente na redução de desastres naturais, mas pode contribuir indiretamente na prevenção e na mitigação desses eventos adversos, pois empresas que adotam práticas sustentáveis e ambientalmente responsáveis reduzem a emissão de carbono, ajudam na conservação dos recursos naturais, e na proteção de biomas e ecossistemas.
Tais medidas, configuradas no ‘Ambiental’ do ESG, minimizam os impactos das atividades humanas que contribuem para o agravamento das mudanças climáticas e, consequentemente, para desastres naturais climatológicos e hidrológicos, assim como o ocorrido no Rio Grande do Sul.
Já no que tange o ‘Social’, as empresas poderiam ajudar a Defesa Civil com investimentos voltados para a educação e o conhecimento. Isso, com o objetivo em fortalecer a resiliência das comunidades, uma vez que as populações melhores informadas estão mais preparadas para lidar com desastres naturais e, portanto, são capazes de se recuperarem rapidamente.
Ainda sobre o indicativo do ESG, no pilar ‘Governança’, as organizações são orientadas a contribuir para a normalização e a regulamentação de boas práticas de relacionamento com a cadeia de suprimentos, bem como na relação com comunidades próximas, por exemplo.
Os projetos que envolvem ESG podem criar colaboração entre setor público e privado, tendo em vista que as empresas reconhecem cada vez mais a importância de abordar questões da sigla nas diferentes iniciativas que tomam. E isso, não apenas como parte da responsabilidade social, mas também como uma forma de melhorar a gestão de riscos, atrair investimentos sustentáveis e garantir a sustentabilidade dos negócios.
ABORDAGEM ORIENTADA A DADOS
Uma outra forma eficiente para reduzir os riscos e perigos de desastres é o uso da abordagem orientada a dados, que pode ser implementada por qualquer organização que tenha o objetivo de garantir a continuidade de negócios frente às consequências da degradação ambiental e dos eventos climáticos adversos decorrentes.
Para que a implementação da metodologia orientada a dados seja eficaz, algumas etapas são necessárias. O primeiro passo dessa jornada é iniciar a coleta e a compilação de informações relevantes sobre a área geográfica sujeita a desastres. Neste estudo, é importante verificar o histórico de eventos passados, padrões climáticos, informações de infraestrutura e demografia, entre outros fatores que possam influenciar os riscos.
Em seguida, é recomendado utilizar técnicas de análise de dados para identificar padrões, tendências e correlações. Com a análise preditiva, é possível antecipar possíveis eventos adversos e entender melhor a probabilidade de ocorrência de tipos de desastres em uma determinada região.
Dessa maneira, construir modelos de riscos com base nas informações coletadas e nas análises realizadas podem ajudar a entender melhor a magnitude dos potenciais desastres, bem como as consequências para a empresa.
Ao tomar decisões sobre políticas de gerenciamento de desastres, planejamento empresarial, alocação de recursos, entre outras medidas preventivas, é importante se basear em insights obtidos dos dados e dos modelos, a fim de garantir que as ações sejam fundamentadas e eficazes.
E, para reforçar o projeto de análise, é importante utilizar tecnologias de monitoramento em tempo real, como sensores, drones e sistemas de alerta. Esses recursos são trabalhados com a finalidade de obter dados contínuos sobre as condições ambientais e responder rapidamente a mudanças que possam indicar a possibilidade de um desastre iminente.
Os resultados das análises de dados podem ser compartilhados com outras partes interessadas, como empresas da região, governos locais, comunidades e organizações de resposta a desastres. A conscientização sobre os riscos existentes pode ajudar a tomar medidas preventivas e preparatórias mais eficazes.
Por fim, também é necessária uma abordagem de aprendizado contínuo, atualizando constantemente os dados, modelos e estratégias à medida que novas informações se tornem disponíveis e tecnologias avancem.
A abordagem orientada a dados para a redução de riscos de desastres permite que os gestores e tomadores de decisão tenham uma compreensão mais sólida dos perigos que enfrentam, melhorando a preparação e a resposta, garantindo a continuidade do negócio e, em última instância, salvando vidas e protegendo propriedades.
**Anderson Hoelbriegel é diretor de negócios da ICTS Security, empresa de origem israelense que atua com serviços de inteligência, consultoria e gerenciamento de operações em segurança.
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