O conceito é uma provocação. Um convite à reflexão – especialmente se você é homem – feito pelo jornalista Adriano Silva, 52, em artigo publicado em outubro de 2023.
Trata-se da proposta de uma nova ética nas relações entre os gêneros, com o homem questionando constantemente seus privilégios e adotando, a partir daí, conduta e vocabulário antissexistas de maneira continuada.
É mais ou menos como juntar o conceito básico de feminismo – que milita desde o século 18 pela igualdade entre gêneros frente aos privilégios que a masculinidade detém – com alguns significados da palavra “regenerar”, como reorganizar, restaurar e reabilitar – neste caso, aplicados às relações desiguais entre mulheres e homens.
Isso vale tanto para as relações afetivas e familiares como para as relações profissionais, uma vez que a equidade de gênero está longe de ser uma realidade nos ambientes corporativos, tanto em termos salariais como de representatividade em posições de liderança.
Ou seja, feminismo regenerativo seria aquele que reequilibra o convívio entre o feminino e o masculino a partir de uma profunda e ativa autocrítica masculina.
A provocação se origina num artigo intitulado Feminismo regenerativo: tudo o que aprendi com minha filha sobre como (não) tratar as mulheres. No texto, Adriano expõe sua jornada desde a infância, como filho de uma feminista autodeclarada, até o momento em que, julgando-se desconstruído e letrado nas questões de gênero, tem uma conversa redefinidora de sua masculinidade com a filha, uma jovem adulta que há pouco saíra de casa para morar sozinha.
No meio de um papo informal – e aparentemente sem potencial ofensivo –, Adriano, um homem branco, heterossexual e cisgênero, percebe-se como um machista estrutural crônico, ainda carecendo de repertório, de autoanálise e, principalmente, de uma nova atitude em relação a outros gêneros.
“Minha filha, como muitas meninas da sua geração, se veste com liberdade – uma conquista maravilhosa. A roupa é uma prerrogativa do indivíduo, uma forma de expressão pessoal, um cultivo da identidade, um item de autoestima, e não implica nenhum tipo de permissão ou de convite a outrem”, descreve o autor.
“Esses dias perguntei a ela se já tinha sido importunada, ou se sentido constrangida, ao usar um de seus looks. Ela me disse na tampa: ‘O assédio não acontece pela roupa que eu estou vestindo. O assédio acontece porque eu sou mulher’. Eu senti vergonha. Quis engolir minhas palavras. Disse que ela estava corretíssima. E lhe pedi desculpas.”
A partir daí, Adriano compartilha uma autoavaliação sobre como, ao longo dos anos, se portou como alguém que contribuiu para a desigualdade de gênero, seja em relações profissionais, amorosas ou parentais.
O articulista termina o relato propondo caminhos para si próprio e para aqueles que leem, incluindo o que denomina como “feminismo regenerativo” – uma maneira de compensar a pegada de machismo estrutural, de reparar ou mitigar os danos que homens causam a mulheres tão somente por elas serem o que são. A definição do conceito vai além: a proposta do feminismo regenerativo seria fazer com que os homens possam melhorar, corrigir o rumo desta estrada. É um feminismo que pode ajudá-los a se regenerar, por fim. Como lhe ensinara a filha:
“Não basta ser feminista. É preciso ser antimachista. Antissexista. Antipatriarcal. Atuar nessas frentes, de modo ativo, no mundo. Romper o silêncio. Assumir sua própria vulnerabilidade diante desse desafio.”
“E caminhar adiante. Como uma espécie de feminismo regenerativo, uma nova ética nas relações entre os gêneros que todo homem que se preza precisa exercitar.”
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