Economia regenerativa é uma proposta de abordar o quanto valem recursos socioambientais que não costumam ser precificados. Exemplificando: você já pensou em quanto custa a energia disponibilizada constantemente pelo Sol ou a água disponível para consumo no planeta? Ou, ainda, quanto vale uma rede comunitária formada por profissionais da educação, alunos e pais de alunos?
Em outras palavras, a economia regenerativa propõe o reconhecimento – de maneira calculada – do valor do meio-ambiente, das pessoas e das relações entre estes elementos, para os sistemas produtivos. Afinal, os recursos naturais são os pilares da vida e da capacidade humana de transformá-los e gerar valor e riqueza – não faria sentido, portanto, excluir fatores tão valiosos da contabilidade convencional.
Um dos objetivos dessa abordagem é evitar que os bens naturais, assim como a própria sociedade, sejam consumidos até a escassez. Contabilizar o custo destes recursos pode ser uma maneira de controlar o acesso a eles, prevenindo o colapso socioambiental.
No artigo científico Measuring regenerative economics: 10 principles and measures undergirding systemic economic health (“Medindo a economia regenerativa: 10 princípios e medidas que sustentam a saúde econômica sistêmica”, em tradução livre), pesquisadores de instituições e universidades dos EUA e da Áustria comentam que:
“A vitalidade econômica repousa em primeiro lugar na saúde das redes humanas […] que fazem todo o trabalho e nas redes ambientais […] que alimentam e sustentam todo o trabalho.”
Os autores seguem argumentando que a saúde de uma economia depende da manutenção de toda a rede de sistemas socioeconômicos interconectados: indivíduos, empresas, comunidades, cidades, cadeias de valor, sociedades, governos e a biosfera:
“Um metabolismo econômico saudável deve ser “regenerativo”, ou seja, deve continuamente canalizar recursos para processos internos autoalimentados, autorrenováveis e autossustentáveis.”
Por uma economia que se autoalimenta, se autorrenova e se autosustenta, entenda-se, nas palavras dos autores, um sistema em que haja financiamento estável e significativo para a educação, infraestrutura, inovação e empreendedorismo.
Os pesquisadores também apontam algumas práticas de saúde pública, em que pacientes, hospitais e profissionais da saúde interagem em cooperação para aprender coletivamente e regenerar indivíduos – e, consequentemente, a sociedade –, como exemplos úteis para estruturar uma sociedade regenerativa:
“A teia de relacionamentos e valores humanos é mais importante do que o crescimento do PIB porque a vitalidade de uma sociedade – ou seja, sua capacidade de produzir, inovar, adaptar e aprender – depende quase inteiramente desses relacionamentos e valores.”
Por fim, os autores destacam a importância dos valores culturais para determinar a orientação econômica das organizações. Segundo eles, são estes valores que definem se uma empresa trabalha para servir os clientes e a sociedade ou somente para maximizar os lucros, independentemente dos danos que possam causar às pessoas e ao planeta.
OS QUATRO PILARES DA ECONOMIA REGENERATIVA
Ainda de acordo com o paper, a economia regenerativa se apoia em quatro categorias principais, que interagem continuamente:
Circulação
O fluxo de capital, ideias, informações e recursos energéticos é, historicamente, propulsor do desenvolvimento econômico. Ter conhecimento e controle sobre onde estes recursos circulam e sobre como eles interagem é tão importante quanto ter uma quantidade adequada ou abundante de recursos disponível.
Exemplificando: uma circulação econômica deficiente afeta os cidadãos – diminuindo emprego, renda, negócios e infraestrutura –, reduz a demanda agregada e estrangula a economia, não importa o tamanho do PIB.
Estrutura organizacional
Na economia regenerativa, o foco é a comunidade em vez do mercado. A proposta é que as empresas se conectem em redes, submetendo seus objetivos e metas a uma atuação conjunta em prol da sociedade. Desse modo, os recursos naturais podem ser compartilhados e integrados, fortalecendo a capacidade regenerativa da economia, da sociedade e do meio-ambiente.
Relacionamentos e valores
Redes econômicas sólidas são construídas por trabalhadores que produzem mais ao colaborar uns com os outros do que atuando sozinhos. Esta afirmação dos pesquisadores é corroborada por vários postulados que funcionam para variados tipos de rede, como a Lei de Metcalfe e a Lei de Reed.
Aprendizagem coletiva
Os autores descrevem a humanidade como uma experiência de aprendizado colaborativo que prospera ao forjar novos conhecimentos que vão moldando a própria sociedade e a percepção coletiva sobre como o mundo funciona. Portanto, nada mais natural do que estimular a troca de conhecimento e a colaboração como estratégia de longevidade e regeneração econômica.
OS 10 PRINCÍPIOS DA ECONOMIA REGENERATIVA
Dentro da estrutura de quatro pilares, os autores do estudo elencam dez princípios básicos que podem nortear a implementação da economia regenerativa. São eles:
CIRCULAÇÃO
1. Controlar a circulação de energia, informação, recursos e dinheiro
2. Reinvestimento
3. Obtenção de recursos limpos
4. Entrega de resultados limpos
ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
5. Integração entre pequenas, médias e grandes organizações
6. Resiliência e eficiência
7. Estimular diversidade
RELACIONAMENTOS E VALORES
8. Promover relacionamentos mutuamente benéficos e valores comuns
9. Promover atividades construtivas e limitar processos extrativistas e especulativos
APRENDIZAGEM COLETIVA
10. Promover aprendizagem eficaz, adaptativa e coletiva
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