Carla Crippa, da Ambev, diz que combate à desigualdade é o maior desafio pós-pandemia e que união empresarial é a chave para isso

Uma revolução cultural está transformando a forma com que a maior cervejaria do país se relaciona com o mundo. Há poucos anos, a Ambev incluiu a inovação como um dos seus pilares na estratégia ESG e, passados 19 meses de enfrentamento da pandemia de Covid-19, a forma como a empresa olha para seu entorno é outra.

Se essa transformação pudesse ser resumida em uma palavra, seria ecossistema. Para a biologia, ecossistema é um conjunto de organismos, vivos ou não, que interagem entre si e com o meio. Para os negócios, é valorizar e fortalecer a própria cadeia produtiva.

Carla Crippa, vice-presidente de Relações com a Sociedade da Ambev Brasil, dimensiona:

“A Ambev é muito mais do que uma empresa, é um grande ecossistema de pessoas, colaboradores, clientes, parceiros de negócios, fornecedores. Como a gente consegue crescer como negócio e fazer nossos parceiros crescerem junto? Isso tem norteado todo o nosso planejamento para os próximos 10 anos em ESG.”

Há 8 anos na companhia, Carla é um exemplo de como boas ideias se tornam iniciativas transformadoras. Há cinco anos, por sugestão dela, a Ambev lançou a primeira água mineral sem fins lucrativos do mercado.

A iniciativa já arrecadou mais de R$ 5 milhões e apoiou 54 projetos pelo país, beneficiando mais de 220 mil pessoas. A estratégia é simples: ao reverter 100% do lucro com a venda da garrafa de água mineral, produto criado para este fim, a empresa leva água potável para as regiões onde ela é escassa.

Desde então, as ideias de impacto social e ambiental passaram a ser ainda mais valorizadas. Ela conta que a força dessa transformação cultural foi sentida no início da pandemia, quando os próprios funcionários passaram a questionar como a empresa poderia fazer mais pelo país naquele momento crítico.

O movimento foi espontâneo, fruto do recente estímulo para que a empresa tivesse mais agilidade, intraempreendedorismo e estivesse guiada para questões da agenda ESG. Com 38 mil funcionários, a empresa representa uma usina de boas ideias ambientais, sociais e de gestão.

“No começo da pandemia, a diferença foi o interesse genuíno das pessoas em ajudar. Quando vi gerentes de áreas diversas tendo ideias de como enfrentar aquele momento, fiquei feliz da vida. Nosso trabalho foi fomentar ainda mais a participação.”

PANDEMIA GEROU DIVERSIDADE DE INICIATIVAS

Quando a pandemia chegou ao Brasil, a Ambev já estava monitorando o que acontecia na China, atingida pelo coronavírus semanas antes, e transformou isso em aprendizado. Essas informações, em conjunto com a recente valorização da agilidade nos processos, fizeram com que a empresa largasse na frente.

Logo nos primeiros dias de pandemia, houve um pacto entre as lideranças da Ambev para ressignificar o propósito de unir as pessoas por um mundo melhor. Aquela era a hora de agir. A empresa formou um “squad do bem”, com funcionários de áreas muito diversas –como marketing, jurídico, industrial, comercial — para ouvir ideias. “Como tinha um time multifuncional nesse squad, a gente conseguiu com agilidade resolver tudo.”

Dessas reuniões nasceram ideias para ajudar no combate à covid-19, como a que construiu em 36 dias 100 leitos de hospital para uma unidade de saúde pública da capital paulista, no que a empresa considera a obra hospitalar mais rápida da história do Brasil.

Uma das cervejarias da Ambev foi transformada em usina para fabricação de cilindros de oxigênio e 500 deles foram enviados para Manaus no auge da crise sanitária. Outra cervejaria cedeu suas impressoras 3D para que fossem fabricados equipamentos para facilitar a intubação de pacientes.

Houve ações voltadas para bares, restaurantes, ambulantes e catadores e, ainda, a distribuição de 2,5 milhões de pães doados, 100 mil pedras de sabão, 20 toneladas de gomas de tapioca, 3 milhões de máscaras de proteção e 3,3 milhões de unidades de álcool em gel.

AMBEV INVESTE EM PROJETOS POR EQUIDADE

A Ambev já é reconhecida por seus compromissos e metas ambiciosas em relação ao meio ambiente, como zerar a poluição plástica até 2025 e reduzir 25% das emissões de carbono em toda a cadeia de valor.

Mas a pandemia pegou a Ambev em um momento em que o social já tinha lugar de destaque nas propostas de impacto socioambiental da empresa.

E um dos pilares dessa estratégia é a equidade social. No ano passado, a empresa estabeleceu 13 objetivos para ampliar a presença de funcionários negros e a ascensão a cargos de liderança nos próximos anos. Entre as metas, há prazos para treinamento antirracista de funcionários e terceiros e um programa específico de desenvolvimento.

E o ecossistema, mais uma vez, conta. Além de ampliar a representatividade negra entre os funcionários, fornecedores também têm metas específicas a atingir. É uma forma de engajar toda a cadeia produtiva em busca de um impacto social ainda maior.

“Temos que fazer dentro da empresa, mas também é nosso papel mobilizar o ecossistema. Aliás, crescimento compartilhado do ecossistema é nosso fio condutor.”

Dentro da empresa, a equidade racial foi um tema muito discutido nos últimos dois anos e ganhou ainda mais projeção em cenário de pandemia.

Discutir a questão racial também se tornou parte da rotina da Ambev. Um comitê de diversidade em que especialistas externos discutem inclusão com líderes da Ambev existe desde junho de 2020. Além disso, 700 funcionários, de diversas posições hierárquicas, participam de um grupo de um grupo de afinidade étnico-racial. O grupo surgiu para oferecer acolhimento, mas hoje seus participantes também operam como consultores quando o assunto são pautas raciais.

Mas diversidade é só um dos pontos. A Ambev quer mais.

“Estamos em um cenário muito preocupante de pós-pandemia. As desigualdades, independentemente do recorte que façamos, foram ampliadas. Vejo agora uma necessidade muito grande de a empresa atuar nisso”, analisa Carla.
Como podemos nessa pós-pandemia criar impacto, gerar empregos, diminuir a desigualdade?

Carla lembra que a experiência de mobilização de empresas de diversos setores e tamanhos para combater os efeitos da pandemia no país é um exemplo de como podemos seguir em frente.

“Precisamos aproveitar essa oportunidade de união do setor empresarial e fazer o exercício de olhar nossas potências e ver como ajudar o mundo. Essa é a grande virada de chave que a gente tem que dar.”

Agora, a empresa está calibrando seu foco para combater a desigualdade no país, gerando emprego e renda. Entre as ações, está o envolvimento com o Movimento pela Equidade Racial, o Mover, em parceria com outras gigantes brasileiras, como Grupo Boticário, Klabin, 3M e Magazine Luiza.

Entre os compromissos públicos assumidos pelo grupo, estão gerar 10 mil cargos de liderança para pessoas negras até 2030 e fomentar discussões proposições sobre equidade racial.

“A sustentabilidade ambiental e social é que vai garantir que a gente continue sendo relevante para o nosso ecossistema e para o planeta.”


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