Também conhecida como economia do mar, a economia azul refere-se ao conjunto de valores e riquezas proporcionados pelo recurso mais abundante e fundamental para a vida na Terra: a água.
Como 97% desses recursos são oceânicos, e apenas 20% desse gigantesco volume de água foi explorado até agora, há um longo caminho a ser desbravado – com responsabilidade socioambiental, claro. De acordo com estimativas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a economia azul tem potencial para movimentar US$ 3 trilhões ao ano a partir de 2030.
Antes de seguir explorando o conceito, vamos a algumas definições sobre ele:
Para o Banco Mundial, a economia azul é:
“O uso sustentável dos recursos do oceano para promover crescimento econômico e melhorar os meios de subsistência e de trabalho preservando a saúde do ecossistema marinho.”
Na definição da União Europeia a economia do mar compreende:
“As atividades econômicas relacionadas aos oceanos, mares e regiões costeiras que abrangem um amplo espectro de setores estabelecidos e emergentes interconectados.”
Em outras palavras, a economia azul abrange variadas atividades marinhas e costeiras, como a pesca, a extração de petróleo, o transporte de cargas, o turismo, o lazer etc.
O potencial dos oceanos para gerar riquezas e desenvolvimento, contudo, deve ser explorado com extrema responsabilidade socioambiental, uma vez que a poluição oceânica e outras ameaças ao ecossistema marinho põe em risco a sobrevivência no planeta como um todo, dentro ou fora d’água.
E essa vulnerabilidade não se restringe a comunidades costeiras, embora elas sejam as primeiras a sofrer com atividades exploratórias nocivas ao ambiente marinho – com poluição e baixa oferta de alimento, por exemplo – e com aumento do nível do mar causado pelas mudanças climáticas.
Desequilíbrios ambientais oceânicos podem, por exemplo, diminuir a capacidade marinha de capturar gases de efeito estufa da atmosfera, agravando o quadro de aumento da temperatura média global.
Por essas e outras, é imperativo tratar a economia azul como um campo a ser administrado em total compromisso com a agenda ESG.
Não à toa, um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), mais precisamente o de número 14, é intitulado Vida na Água. Nas palavras da própria ONU, este ODS se propõe a:
“Intensificar a conservação e o uso dos recursos marítimos por meio de leis internacionais também irá colaborar com a mitigação dos desafios para termos oceanos limpos e sustentáveis.”
Economia no azul?
Outra prova do valor dos oceanos, é a nomeação do período atual, por parte da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), como a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (ou Década do Oceano), com metas a serem cumpridas até 2030.
Nas palavras da própria Unesco:
“O oceano fornece alimento e condições de vida para mais de 3 bilhões de pessoas. Ele também é responsável por 30 milhões de empregos diretos (…) Isso significa que o oceano poderia ser classificado, em termos econômicos, como a 5ª economia do mundo.”
Para complementar e ilustrar esse potencial quantificado pela Unesco, listamos outros números que ajudam a justificar a ênfase na preservação oceânica como ativo econômico estratégico:
• O fitoplâncton dos oceanos absorve 25% do CO2 atmosférico e produz 50% do oxigênio do planeta;
• O transporte marítimo movimenta 90% do comércio global e é responsável por 3% das emissões de gases estufa.
Apesar da importância ambiental e climática demonstrada de maneira “contábil”, os gastos com estudos oceânicos correspondem, em média, a somente 1,7% dos orçamentos nacionais dedicados à pesquisa.
E o Brasil?
Em 2018, a doutoranda Andréa Bento Carvalho publicou, em sua tese pela PUCRS, quanto vale o PIB do mar brasileiro.
Com dados referentes ao ano de 2015, o estudo Economia do mar: conceito valor e importância para o Brasil demonstra que nossos recursos marítimos representavam algo na ordem de R$ 1,11 trilhão – cerca de 19% do PIB nacional à época – e que os empregos gerados por atividades relacionadas à economia azul empregaram mais de 19 milhões de pessoas. Os números são equivalentes aos do agronegócio no mesmo período.
Apesar da relevância demonstrada, a economia azul ainda é pouco discutida no país. Contudo, há lideranças e organizações procurando mobilizar o debate sobre o potencial de riqueza espalhado pelos quase 11 mil km da costa brasileira.
Nas palavras de Thauan Santos, professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos da Escola de Guerra Naval (PPGEM/EGN) e um dos fundadores do Grupo Economia do Mar (GEM), em entrevista ao Valor Econômico:
“Estamos elaborando um conceito oficial brasileiro sobre economia do mar, bem como sobre um método de mensuração oficial da relevância do mar na economia nacional, junto ao IBGE.”
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