Silvicultura é o cultivo de florestas por meio de manejo agrícola, geralmente para fins comerciais. O intuito é fornecer madeiras para diversas indústrias fazendo um uso racional da floresta. Isso inclui planejar o plantio e a reposição das espécies, mesclar áreas de exploração com áreas de preservação, entre outros expedientes.
A silvicultura de carbono, por sua vez, ocorre quando este manejo leva em conta o balanço entre emissões e retenções de dióxido de carbono (CO2) pela floresta plantada.
Em outras palavras, o objetivo da silvicultura de carbono é garantir que uma área de floresta plantada capture mais CO2 do ambiente do que emite, tornando-se um sumidouro de carbono. Dessa forma, a floresta contribui para mitigar as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) que promovem o aquecimento do planeta, causando eventos climáticos extremos.
Por que a silvicultura de carbono é relevante?
Os benefícios da silvicultura, na verdade, vão além da mitigação de emissão de gases. Em artigo no Nexo Jornal, Paulo Hartung, presidente-executivo da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), exemplifica:
São muitos os benefícios do setor de silvicultura na provisão de serviços ecossistêmicos, como a remoção de carbono e manutenção do clima, habitat para a biodiversidade, regulação do fluxo hídrico, conservação do solo, geração de produtos e energia renovável, entre outros.
Hartung descreve as árvores cultivadas como ativos ambientais e econômicos para o Brasil – que tem as plantações de árvores mais produtivas do mundo – e fundamentais para um mundo mais saudável.
Além disso, destaca que a silvicultura contribui para 11 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) e que é peça-chave para cumprir as metas climáticas assumidas internacionalmente, como as do Acordo de Paris, que são as seguintes para 2030:
– Reduzir emissões de GEE em 43% (em relação a 2005);
– Restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares, somando áreas naturais e cultivadas;
– Integrar lavoura, pecuária e florestas em 5 milhões de hectares;
– Zerar o desmatamento ilegal;
– Acelerar a transição energética*, atingindo 45% de energias renováveis na matriz energética, sendo 18% de bioenergia;
– Expandir o consumo de biocombustíveis.
Contudo, Hartung pondera no artigo sobre os altos custos envolvidos para cumprir essas metas, incluindo para que nossos bosques tenham mais vida e relevância para o planeta:
“Segundo estudo da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura com o Instituto Escolhas, só para o Brasil recuperar os 12 milhões de hectares de florestas, tanto naturais quanto cultivadas, serão necessários investimentos entre R$ 31 bilhões e R$ 52 bilhões. E esse é apenas um dos itens do Acordo de Paris.”
Exemplo prático
De acordo com dados da Ibá, entidade que representa a cadeia produtiva de florestas plantadas, esse segmento mantém 7,83 milhões de hectares em áreas cultivadas (área equivalente à soma dos territórios de Sergipe e Paraíba), que representam um estoque de 1,7 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2eq).
Um exemplo de manejo de floresta plantada eficiente em descarbonização – e que gera outros benefícios socioambientais – já foi mencionado aqui em NetZero. A Klabin, maior produtora e exportadora de papéis para embalagens e embalagens de papel do Brasil, e reconhecida nacional e internacionalmente por uma gestão pautada pelo desenvolvimento sustentável, tem um bom case de silvicultura de carbono para apresentar.
A empresa foi pioneira na adoção do manejo florestal em forma de mosaico. Hoje, 43% de sua base florestal é destinada à conservação. Assim, as práticas produtivas, além de livres de desmatamento, permitem a recuperação de áreas degradadas e a preservação da biodiversidade – mais de 1.300 espécies de plantas e 764 espécies de animais já foram catalogadas nessas áreas.
Nesse tipo de manejo, a Klabin mescla vastas áreas de florestas nativas preservadas com florestas plantadas, de pínus e de eucalipto, em diferentes idades.
Isso ajuda na proteção dos recursos naturais, como a água, o ar e o solo, melhora o potencial de produção das florestas e mantém importantes corredores de biodiversidade, essenciais para a conservação da fauna e da flora, que favorecem a circulação de centenas de espécies de animais silvestres.
Além de todos esses benefícios ambientais, os mosaicos de mata nativa com floresta plantada oferecem ao ecossistema importante resiliência em termos de mudanças climáticas e ocorrência de pragas.
Por meio dessa e de outras iniciativas de descarbonização de seus processos produtivos, a companhia reduziu em 64% suas emissões específicas (CO2 eq/t produto) nos últimos 16 anos.
Atualmente, o balanço de emissões da Klabin é positivo: os 578 mil hectares de florestas mantidas pela empresa capturam mais gases estufa do que os emitidos pelas suas operações. Entre emissões e captações, a empresa mantém um saldo positivo de 4,5 milhões de toneladas de carbono equivalente anualmente.
Júlio Nogueira, gerente de Sustentabilidade e Meio Ambiente da Klabin, comenta:
“De um lado está o nosso processo produtivo, emitindo carbono, e de outro está a floresta, retirando carbono da atmosfera e liberando oxigênio.”
*A partir de setembro, NetZero trará uma série de reportagens e conteúdos especiais sobre transição energética. Não perca.
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