Em 2020, Rogério Nogueira, Pedro Saulo e Fernando Fuzii compraram a briga dos entregadores de aplicativo. Há algum tempo, os trabalhadores já faziam barulho nas redes por melhor remuneração, mais transparência nas regras e segurança – no início devastador da pandemia, os mais conhecidos apps de delivery eram acusados de não oferecer sequer álcool em gel e máscara para protegê-los. Os três empresários, então, entenderam: a precarização só daria alguma trégua quando as demandas dos entregadores fossem atendidas. E, para isso, precisariam criar uma plataforma nova – afinal, os aplicativos jamais atenderiam a todas as solicitações. Nascia ali a ideia do AppJusto.
“Os entregadores e motoristas de aplicativo não têm nenhuma autonomia para decidir o preço do seu serviço, isso já é muito grave. Mas também tem outro ponto grave: o score. As regras não são nada transparentes, os trabalhadores ficam suspensos por horas, dias, sem nem saber o motivo, apenas são avisados pelo aplicativo que infringiram as regras”.
É o que diz Rogério Nogueira, fundador e diretor de experiência do AppJusto. “Então a gente decidiu criar uma alternativa de delivery com relações mais justas para as três partes: restaurante, entregador e consumidor”.
INVESTIMENTO
A ideia empolgou os investidores: 938 pessoas compraram títulos que, no vencimento, em 2026, se tornarão ações. Com arrecadação total de quase R$ 2 milhões – superando a meta mínima de R$ 1,5 milhão –, os empresários começaram a desenhar o AppJusto.
Dinheiro resolvido, tecnologia em andamento, faltava cumprir o principal, dentro da ideia do app: dialogar com as partes envolvidas. “Começamos pelos restaurantes, que pagam taxas abusivas na outra plataforma, e ainda precisam bancar os cupons e os fretes grátis. Os preços são exagerados na porque eles detém um monopólio”, alerta Nogueira. A taxa média cobrada pelo iFood, por exemplo, é de 16% a 25%, mas pode ultrapassar os 30%. O AppJusto chegou a uma taxa bem menor: 5% de comissão mais 2,42% da operadora financeira.
Chegou a vez de ouvir os entregadores – e naquela época era impossível não escutar o barulho que faziam. Era julho de 2020 e esses trabalhadores decidiram cruzar os braços e paralisar as entregas por um dia. Não suportavam mais se expor aos riscos da pandemia, enquanto recebiam tão pouco pelas entregas.
Com diálogo e focus groups, o AppJusto definiu a remuneração dos entregadores, seguindo as demandas levantadas nos dias de greve do “breque dos apps”. Pelo aplicativo, cada entrega garante a eles no mínimo R$ 10, se a distância passar de 5km, ganham mais R$ 2 por quilômetro adicional.
E eles podem se organizar e definir novos valores. Isso porque o aplicativo permite ao consumidor escolher os preços pagos no frete de acordo com a quantidade de entregadores disponíveis – é como acontece em sites de compra online: se você quiser uma entrega mais rápida, paga um pouco a mais. “Em dias de chuva, por exemplo, definiram que o valor da entrega seria de R$ 12 e mais R$ 2,5 por km adicional – comparativamente, no iFood, os entregadores ganham R$ 6 por rota mais R$1,5 por km. Aí todos eles mudam para o outro tipo de frota, para a frota chuva. Qualquer entregador pode mudar ou criar uma frota nova. Então, eles se mobilizam enquanto coletivo para ir todo mundo para a frota com chuva, porque aí o consumidor pede a frota com mais gente”, explica Nogueira.
CUSTA MAIS CARO?
Parece caro se comparado aos preços de frete dos aplicativos mais populares. Mas não é. No fim das contas, o consumidor acaba pagando menos. Segundo pesquisa da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), os pratos custam 17,5% mais caro no iFood do que no salão do restaurante.
Um funcionário do AppJusto comparou, por exemplo, uma compra realizada em um restaurante da zona oeste de São Paulo. Os pedidos eram: uma salada spaghetti de abobrinha, com suco, mais uma salada vegetariana com pesto. No iFood sai por R$ 92,39, enquanto no AppJusto, o preço final é de R$ 78,80.
“Como nossas taxas são menores, os restaurantes conseguem cobrar menos quando vendem pelo nosso aplicativo. E os entregadores ganham mais. É um ganha-ganha. Cada pedido contribui para uma sociedade mais justa. O consumidor contribui voluntariamente para uma causa social, sem tirar nada do bolso, economizando”.
“Além disso, nossas regras são muito transparentes. E nosso suporte funciona bem, recebemos elogios dos entregadores sempre”, diz Nogueira.
Por enquanto, o AppJusto só atende na cidade de São Paulo, mas o executivo diz que pretende chegar a Belo Horizonte em breve.
A plataforma conta com 400 restaurantes cadastrados e 4 mil entregadores aprovados. “Ainda tem poucos restaurantes, nós precisamos de muito mais para atrair novos clientes”, afirma Nogueira. Com mais restaurantes, os pedidos tendem a aumentar – e é justamente disso que o aplicativo precisa para sobreviver.
Segundo Nogueira, a empresa transaciona cerca de R$ 300 mil por mês, mas ainda fatura apenas R$ 12 mil. Mas as expectativas são boas – ele acredita que em dois anos conseguirão alcançar a meta de 200 mil pedidos por mês e gerar um faturamento mensal de R$ 1 milhão. “É por isso que nós precisamos de mais restaurantes, mais clientes, para manter um aplicativo mais justo funcionando”, conclui.
“O AppJusto é um negócio social, que ajuda a criar uma sociedade mais justa”.
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