O “dia da energia movimentou” a Conferência do Clima de Glasgow nesta quinta-feira (04/11). Durante a série de eventos dedicada ao tema organizada pela presidência da COP26, algumas decisões, há muito esperadas, foram divulgadas: países e bancos se mostram mais comprometidos a se despedir da era dos combustíveis fósseis.
Numa declaração conjunta, mais de 20 nações se dispuseram a fechar usinas movidas a carvão e acelerar a transição para fontes de energia limpas. Segundo o comunicado, o combustível fóssil deve ser eliminado nas principais economias até 2030 e, na década seguinte, o mesmo deve ocorrer nas nações mais pobres.
O carvão é a maior fonte global de emissão de CO2, gás de efeito estufa acumulado em maior quantidade na atmosfera atualmente. Usado principalmente para gerar eletricidade e calor, o carvão é queimado em larga escala em países como China, Índia e Estados Unidos, os três primeiros do ranking mundial.
Segundo informações do governo do Reino Unido, que preside a COP26, dentre os países que assinaram a declaração estão importantes produtores mundiais de energia a base de carvão: Coreia do Sul (5º), Indonésia (7º), Vietnã (9º), Polônia (13º) e Ucrânia (19º).
Meses antes do encontro em Glasgow, em agosto, o Brasil tomou uma decisão que vai na contramão do que acaba de ser acordado. O país lançou o Programa para Uso Sustentável do Carvão Mineral Nacional para incentivar o uso da fonte altamente poluidora nas usinas termelétricas. A proposta quer apoiar a mineração de carvão na região Sul, que concentra 99,97% das reservas.
Ao mesmo tempo, o maior estado dessa região, Rio Grande do Sul, é um dos integrantes do movimento chamado Governadores pelo Clima – que marcou presença na COP26. Nesta quinta-feira, dez governadores da iniciativa, composta por 22 estados, lançaram no encontro o Consórcio Brasil Verde, que já havia sido anunciado no Brasil.
Com o vácuo de políticas ambientais e climáticas deixado pelo atual governo federal, os governadores prometem medidas subnacionais para enfrentarem os efeitos das mudanças climáticas, como neutralização da emissão de carbono, fiscalização do desmatamento ilegal, reflorestamento e investimento em fontes de energia renovável.
Menos dinheiro para o carvão
Ainda sobre combustíveis fósseis, uma outra frente formada por líderes dos Estados Unidos, Canadá, Itália, Canadá, Dinamarca, Reino Unido entre outros, prometeram acabar com o financiamento público internacional direto para carvão, petróleo e gás até o fim de 2022. Instituições financeiras também firmaram o mesmo objetivo.
Organizações não-governamentais, por sua vez, comemoraram. A ONG 350.org comentou:
“Se implementada de forma eficaz, esta iniciativa poderia transferir diretamente para a produção de energia limpa mais de US$ 15 bilhões por ano de apoios governamentais que atualmente financiam combustíveis fósseis.”
Ainda assim, uma pesquisa da Oil Change International e da Friends of the Earth mostra que, entre 2018 e 2020, as instituições financeiras públicas internacionais dos países do G20 e os bancos multilaterais de desenvolvimento apoiaram combustíveis fósseis com pelos menos menos US$ 188 bilhões no exterior. O valor é 2,5 vezes maior que o destinado pelas mesmas entidades à energia renovável.
Ficaram de fora do anúncio pesos pesados do setor como o Japão, Coreia – que assinou a declaração para desligar usinas a carvão – e China. Estes países são, respectivamente, os maiores financiadores internacionais da fonte suja.
Uma lacuna que não pode ser esquecida
Com tantas cifras anunciadas, há uma que não pode ser ignorada. É o custo das medidas de adaptação aos impactos crescentes da mudança climática, lembrado nesta quinta-feira pelo Relatório sobre a Lacuna de Adaptação 2021: Tempestade que se Aproxima, feito pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
A pesquisa conclui que o valor a ser empregado nessas ações ficará entre US$ 140 bilhões e US$ 300 bilhões por ano até 2030. O total é maior para as décadas seguintes, ficando entre US$ 280 bilhões e US$ 500 bilhões anualmente até 2050.
Os autores do relatório alertam:
“Apesar de uma tendência recente de aumento gradual de financiamento público internacional para a adaptação dos países em desenvolvimento até 2019, os fluxos devem se estabilizar ou até diminuir como resultado da pandemia de COVID-19.”
O total de financiamento climático para as nações mais pobres está abaixo do patamar necessário. Em 2019, ele atingiu US$ 79,6 bilhões, e as lacunas de adaptação e de vulnerabilidade estão aumentando.
First Move Coalition
No esforço global para cortar emissões e frear o aumento da temperatura média global, empresas também são chamadas a promover mudanças. Pensando nisso, o Fórum Econômico Mundial em parceria com John Kerry, negociador especial para o Clima dos EUA, criaram a First Movers Coalition.
A ideia da coalizão é oferecer uma plataforma para que as empresas comprem tecnologias de baixo carbono e, dessa maneira, criem uma nova demanda de mercado. Segundo o Fórum, as companhias devem assumir compromissos e agir impulsionando novas cadeias de suprimentos limpas e lucrativas.
Sete setores altamente poluentes são visados nesta primeira fase: aço, cimento, alumínio, produtos químicos, transporte marítimo, aviação e transporte rodoviário. A oitava frente de ação é voltado para captura direta de ar, que ainda requer inovação tecnológica e viabilidade comercial. A ferramenta é vista como uma alternativa para reduzir os níveis de CO2 na atmosfera e, dessa maneira, ajudar a derrubar as emissões líquidas globais.
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