Segundo dados do Google Trends, somente no Brasil, o interesse público sobre ESG (Enviromental, Social and Governance) cresceu 9,4 vezes entre 2019 e 2022. Esse crescimento parece ter correlação com o Manifesto de Davos em 2019, no World Economic Forum (WEF), quando grandes investidores, C-Levels e governantes defenderam o Capitalismo de Stakeholders.
Marcelo Cardoso, ex-Executivo da Natura e fundador da Chie Integrates, defende que a maneira como o ESG está sendo desenvolvido atualmente seja equivalente a um simples band-aid tentando corrigir uma fratura exposta. Em outras palavras, irá influenciar poucas mudanças em comparação com a transformação social, cultural e espiritual que realmente precisamos implementar enquanto sociedade e planeta.
Eu realmente acredito que o ESG não seja a solução para TODOS os problemas da humanidade (“solucionar a fratura exposta”), porém, defendo que ele seja sim uma janela de oportunidade para influenciar o despertar de uma transição econômica e social. Para mim, o crescimento do interesse público sobre ESG representa um convite para iniciar uma jornada coletiva de reflexão, aprendizado, desenvolvimento e evolução.
Se olharmos para o ESG como uma mera ação de responsabilidade social, ele realmente tende a ser um mero “band-aid”. Agora, eu gosto de pensar na agenda ESG com um convite! Sim, um convite para, coletivamente, dar os próximos passos diante de uma jornada de transição cultural. Onde cada um de nós e das nossas organizações possa, dentro das suas responsabilidades, exercer um papel de protagonista, oferecer e também procurar apoio social para sistemicamente tratarmos os desafios ambientais, sociais, culturais e de governança aos quais estamos sendo expostos todos os dias a partir do momento em que desenvolvemos consciência para começar a enxergar a realidade tal qual ela é.
ESG COMO CONEXÃO
O ESG pode ser uma excelente maneira de conectar mais investidores, executivos, colaboradores, clientes e parceiros de negócio em prol não apenas de mudanças pontuais (“band-aid”), mas sim de uma transição na maneira como nos relacionamos não apenas no mundo dos negócios, mas também em sociedade. Isso pode significar a ascensão de produtos, serviços, modelos de gestão e negócio regenerativos. Pode significar também o despertar para um ambiente de trabalho mais humano, ético, consciente, diverso, sustentável e inovador.
O ESG pode ser uma janela de oportunidade para coletivamente darmos os próximos passos e, quem sabe, fazer o capitalismo de stakeholders funcionar para regenerar (e não propagar) os problemas causados pelas próprias empresas no planeta – poluição, desmatamento, corrupção, desigualdade, colaboradores e animais maltratados, além de diversos outros.
Nos últimos três anos a Humanizadas avaliou mais de 500 organizações no Brasil. Mais de 120 mil stakeholders foram escutados: conselheiros(as), lideranças, colaboradores, consumidores, clientes, parceiros, investidores e sociedade em geral. Nesses trabalhos, fica nítido que algumas lideranças e organizações já estão sendo protagonistas e influenciando essa transição, enquanto outras estão em estágios iniciais. Quem já iniciou essa transição, naturalmente possui resultados superiores em múltiplos capitais. Por exemplo, onde há uma liderança e uma cultura mais saudável, operando em estágios mais avançados da agenda ESG, existe melhor índice de bem-estar (2,19x), segurança psicológica (1,50x), inclusão e diversidade (1,40x), performance em práticas ESG (1,76x), transparência (1,77x), confiança (2,03x), reputação da marca (1,44x) e rentabilidade superior no longo prazo (4,81x).
RISCO OU OPORTUNIDADE?
Já ouvi algumas pessoas comentando que o ESG pode ser um risco ou uma oportunidade. Ambas as perspectivas são verdadeiras, e dependem de qual estágio você e a sua empresa estão. Para aqueles que ainda não iniciaram uma jornada profunda de reflexão e desenvolvimento sustentável, em breve, o ESG será um risco ao negócio – poderá afetar não apenas a perda de talentos, faturamento e crescimento, como também poderá significar a fuga de investimentos.
Para aqueles que já deram os primeiros passos e estão mais avançados nessa jornada, o ESG pode significar uma excelente oportunidade de diferenciação, atração de talentos, crescimento, reputação, desenvolvimento de princípios e valores mais elevados. Coletivamente, essa transição pode significar a ascensão de negócios mais humanos, conscientes, diversos, sustentáveis e inovadores.
Em qual estágio você e a sua empresa estão nessa jornada?
E qual papel vocês pretendem assumir?
A escolha é sua.
**Pedro Ernesto Paro é o CEO e fundador da Humanizadas, uma empresa de avaliação multistakeholder em ESG orientada à Inteligência de Dados. É pesquisador de doutorado do Grupo de Gestão de Mudanças e Inovação da Universidade de São Paulo (EESC/USP). Para conhecer mais sobre o seu trabalho, basta seguir as redes sociais @pedroernestoparo e @humanizadas.br.
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