De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), uma agrofloresta ou sistema agroflorestal (SAF) pode ser definida assim:
“Sistemas produtivos que podem se basear na sucessão ecológica, análogos aos ecossistemas naturais, em que árvores exóticas ou nativas são consorciadas com culturas agrícolas, trepadeiras, forrageiras, arbustivas, de acordo com um arranjo espacial e temporal pré estabelecido, com alta diversidade de espécies e interações entre elas.”
Uma outra definição possível é a de um sistema que mantém culturas agrícolas em consórcio com espécies florestais, ocasionando um plantio sustentável que fornece produtos de subsistência e de valor comercial (como alimentos e madeira, por exemplo) ao mesmo tempo em que promove a recuperação vegetal e do solo.
Além da importância como modelo sustentável de agricultura, em contraposição a cultivos agrícolas em escala industrial ocupando extensas faixas de terra desmatadas, com ênfase em monocultura e fazendo uso de fertilizantes e agrotóxicos, os sistemas agroflorestais podem impactar ecossistemas de maneira local e global, seja recuperando cursos de água e florestas seja influenciando positivamente no clima. O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) de 2019 descreve esse impacto:
“Sistemas agroflorestais podem contribuir com a melhora da produtividade de alimentos ao mesmo tempo em que ampliam a conservação da biodiversidade, o equilíbrio ecológico e a restauração sob condições climáticas em mutação”.
Quem inventou o conceito de agrofloresta?
Embora não lhe dessem esse nome, podemos atribuir a invenção da agrofloresta a povos originários de diversos locais do mundo, há séculos, milênios atrás.
Pense, por exemplo, em comunidades que cultivam, no mesmo solo, variadas espécies vegetais que cooperam entre si ao compartilhar recursos (como água e luz), defesas (afastando pragas) e nutrientes (oferecendo matéria orgânica, por meio de folhas e galhos, para renovar o solo).
É o caso de etnias indígenas ao longo de todo o território brasileiro, bem como de outras antigas civilizações e povos originários ao redor do mundo.
Mais recentemente, no Brasil, destaca-se como um dos pioneiros dos sistemas agroflorestais o suíço Ernst Götsch. Nos anos 1980, ele comprou uma fazenda de cacau abandonada no sul da Bahia, em Piraí do Norte, e promoveu uma revolução ecossistêmica.
Ao promover o plantio de espécies nativas misturadas a novas culturas, posicionando-as de acordo com as necessidades de cada uma, ele restaurou flora e fauna locais, aliando produtividade com sustentabilidade.
Além de cultivar cacau, pupunha, banana e dezenas de outras espécies comestíveis na terra renovada, o suíço alcançou a proeza de “plantar água”. Ao reflorestar porções do terreno que correspondiam a margens de riachos secos, a água voltou a ficar retida na superfície e a circular pelo terreno.
Além de suprir necessidades de plantas e de animais que voltaram a circular pela fazenda, a volta da água ao ecossistema local aumentou em 70% as chuvas na fazenda – a transpiração das árvores, ou evotranspiração, transfere água para atmosfera em forma de vapor e aumenta a formação de nuvens. O suíço garante que sua reserva florestal particular aumentou o volume de chuvas em regiões distantes 8 km dali.
Atualmente, Götsch exporta seu cacau para Portugal e seu conhecimento para o mundo por meio de consultoria, workshops e palestras.
Conceitos relacionados
Agroecologia
Ciência que estuda o manejo de ecossistemas produtivos para que preservem os recursos naturais, as culturas locais, e que promovam justiça social sendo economicamente viáveis, possibilitando a existência de agroecossistemas sustentáveis.
Agricultura regenerativa
Baseia-se em processos naturais para selecionar espécies de serviço no sistema, a fim de produzir bioinsumos para o próprio sistema a fim de diminuir a dependência de nutrientes e defensivos externos, assim como o consumo de água.
Permacultura
A “agricultura permanente” é definida assim por um dos criadores do conceito, o australiano Bill Mollison: “elaboração, implementação e manutenção de ecossistemas produtivos que mantenham a diversidade, a resistência e a estabilidade dos ecossistemas naturais promovendo energia, moradia e alimentação humana de forma harmoniosa com o ambiente.”
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