Como a L’Occitane fortalece a cultura e a liberdade de mulheres que extraem matérias-primas de seus produtos

Burkina Faso é um pequeno país da África Ocidental que, há anos, sofre com a pobreza e a guerra civil entre grupos extremistas islâmicos. As mulheres do país, tão castigadas pela violência, no entanto, guardam uma jóia cosmética: a manteiga de karité, matéria-prima usada em inúmeros produtos de beleza da grande indústria no mundo inteiro. A partir de técnicas ancestrais, elas fazem a extração da semente e do óleo de hidratação intensa – com esta venda, sustentam suas famílias e comunidades inteiras. Em outro continente, aqui no Brasil, outro grupo de mulheres do sertão da Bahia que também luta para sobreviver, cantam enquanto quebram as duras sementes de licuri, também usada em cosméticos de alta precisão.

O que elas tem em comum? A mão do Grupo L’Occitane, global francesa que atua nas duas regiões – além de muitas outras em que vende seus produtos. E o outro ponto em comum é o apoio direcionado da empresa às mulheres pelo mundo. Este apoio vem mudando não apenas a realidade destas mulheres como também o desenvolvimento de um país inteiro – é o caso de Burkina Faso.

“Um dos nossos compromissos de marca é o empoderamento feminino. Atuamos em Burkina Faso desde os anos 1980, quando foi encontrada a karité. Implantamos toda uma rede de apoio para as mulheres extratoras lá – hoje já são mais de 10 mil beneficiadas. Toda a manteiga é fair trade (comércio justo) e orgânica desde 2009”, explicou Paula Cremonezzi, gerente de sustentabilidade do Grupo L’Occitane.

A CONSTRUÇÃO DE UMA HISTÓRIA

A história entre a L’Occitane en Provence e as mulheres produtoras de manteiga de Karité em Burkina Faso começou em de 1980. Eram apenas 12 mulheres no início – e os números saltaram em progressão geométrica: hoje já são mais de 10 mil envolvidas com a meta de chegar a 65 mil até 2025.

Em 2018, a empresa lançou o Programa RESIST (que tem como base os valores de Resiliência, Ecologia, Fortalecimento, Independência, Estruturação e Treinamento), um investimento de US$ 2 milhões, reconhecido como exemplar pelas Nações Unidas. A ideia é ajudar as mulheres de Burkina Faso a protegerem suas árvores de karité e terem acesso a áreas orgânicas para coletar as sementes; consolidarem a sua cadeia de abastecimento; diversificarem sua renda encontrando novos clientes para sua manteiga de karité; desenvolverem novas atividades econômicas, como a produção de hibisco.

Quando as mulheres conquistam sua liberdade financeira, a Fundação L’Occitane atua ainda com projetos de educação, formação, alfabetização e investimento em empreendedorismo. Isso vem mudando toda a realidade de um país.

“Essa renda gera independência financeira para estas mulheres. Muitas vezes é a única fonte de renda da família. Sem contar que elas são treinadas em técnicas de agrofloresta e isso diminui consideravelmente as emissões de CO2 na atmosfera”.

UM PRODUTO COBIÇADO NO MUNDO

A busca pela manteiga de karité cresce cada vez mais na indústria. A exportação em Burkina Faso cresceu de R$ 52.7 milhões, em 2016, para R$ 61.8 milhões em 2019. Com este aumento, crescem também o manejo inadequado e técnicas automatizadas de extração.

“Estas novas técnicas de extração acabam tirando o trabalho destas mulheres, que é artesanal. Nós não vamos substituir o trabalho delas por máquinas. O processo delas é cultural, passado de geração em geração, e cuidamos para que continue assim”. 

Em 2021, após 3 anos da implementação do programa RESIST, os impactos da marca em Burkina Faso trouxeram mais números animadores: foram estabelecidos 33 campos de amêndoa e cerca de 8.500 colhedoras foram capacitadas sobre técnicas agroflorestais.

Segundo Paula, para diversificar a cadeia e ampliar os benefícios, o projeto agora vai expandir para Gana, onde há 500 outras mulheres produtoras de karité.

E O BRASIL?

O programa africano é de encher os olhos, mas nós, que estamos do outro lado do Atlântico, nos perguntamos: há projetos semelhantes no Brasil? Sim, inúmeros. O apoio às catadoras de licuri, neste caso pela L’Occitanne au Brésil, no sertão da Bahia, que citamos no início desta reportagem, é apenas um deles. Neste caso, além do acompanhamento técnico constante, visita às áreas produtivas, promoção periódica de oficinas de boas práticas, a empresa também distribuiu caixas de abelhas nativas das espécies de jataí e mandaçaia. Isso para contribuir para a polinização das espécies nativas de plantas, além de geração de renda com a venda do mel.

“Em todos os países com unidades de negócio, temos projetos locais. Acreditamos que temos que devolver tudo o que recebemos para a comunidade. A gente não pode vir de fora e só trazer o impacto. Temos que retribuir para a comunidade, e diminuir o impacto negativo que geramos, é o mínimo”, observou Paula. E completou:

“A empresa precisa se conectar com o público onde ela está. É importante estar perto do consumidor. E não ser só mais uma empresa estrangeira que despeja seus produtos nas prateleiras”.

Isso vale para a cadeia de fornecedores e toda a produção. A executiva explica que o modelo de negócio da L’Occitane está baseado no contato, na proximidade, no olho no olho.

“Temos pessoas nos locais, nas comunidades diretas em que compramos as matérias-primas. Onde compramos os ingredientes, os engenheiros estão junto. Estamos muito próximos. Somos diferentes das empresas muito grandes e não estamos distantes do fornecedor, pelo contrário. Conhecemos um por um. O contato é fundamental.”


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