Há quase três anos, Guadalupe Franzosi está na presidência da operação brasileira da Ingredion, uma empresa global líder em soluções de ingredientes de origem natural. A posição que ocupa, em linha com uma liderança formada por 50% de mulheres, é um reflexo da preocupação da companhia com a diversidade de gênero. Mas esse é só um dos exemplos da prática da agenda ESG da Ingredion, que coloca a sustentabilidade na mesa do board, endereçando o tema como estratégia de negócio.
Confira a entrevista que a executiva deu ao NetZero:
Como foi construída a estratégia ESG da Ingredion?
O ponto de partida se deu em 2019, quando o Conselho de Sustentabilidade global iniciou um processo de consulta aos stakeholders para entender os tópicos de relevância e construir uma matriz de materialidade. A partir daí, definimos nossa estratégia de sustentabilidade que denominamos All Life, que une o potencial das pessoas, da natureza e da tecnologia para um futuro melhor. Esse plano é baseado em três pilares: vida diária, vida do planeta e vida conectada. Dentro deles, estruturamos nove categorias com metas até 2030. Visamos a segurança das pessoas e dos produtos, práticas que garantam os direitos humanos dentro e fora das nossas operações, diversidade e inclusão no dia a dia das pessoas, inovação atrelada à sustentabilidade, redução de impactos ambientais, preservação da biodiversidade, agricultura regenerativa, minimização do desperdício e perdas, e impactos positivos nas comunidades.
Tudo isso é pensado para além das nossas operações, com a proposta de promover as práticas de desenvolvimento com nossos parceiros e comunidades, criando uma corrente positiva. Essa é a nossa base global, na qual sabemos que queremos atuar. Porém, entendemos que os desafios são diferentes no nível local. Por isso, estamos começando a olhar para o Brasil e perceber como traduzir tudo isso de forma ainda mais específica e relevante tendo em vista as particularidades do país.
Nesse sentido, o Brasil tem um enorme potencial, certo? Como está caminhando esse olhar mais regional?
Sim, a matriz energética brasileira se destaca com o predomínio do uso de energias renováveis, principalmente com a hidrelétrica. Temos um potencial incrível na oferta de energia limpa e no uso sustentável do solo. O país está bem à frente no plantio direto, por exemplo. Cientes das características únicas de cada região, há um ano, criamos na Ingredion Brasil uma posição de gerente de sustentabilidade, justamente para ter mais clareza com relação aos nossos objetivos traduzidos para o local. E já tivemos avanços importantes, como a mudança de nossa matriz energética para biomassa – ou seja, a geração de vapor que era feita com gás, passa a ser feita com biomassa. E o impacto disso é grande: neste ano, conseguiremos reduzir 50% das emissões diretas do escopo 1 e 2, e passaremos a ter 100% comprada de fonte renovável.
Em relação ao pilar social da agenda ESG, o Brasil é uma referência da Ingredion na questão de diversidade, especialmente de gênero. Conte sobre essa conquista.
Acreditamos que devemos ter uma liderança representativa se quisermos garantir a representatividade na empresa como um todo. No ano passado, atingimos 50% de mulheres na liderança, tirando operações, que está com 42%, número muito próximo de atingir a meta dos 50%, que estava prevista para 2030. A Ingredion Brasil é uma referência na corporação, inclusive, eu fui a primeira mulher à frente da posição general manager. Isso fala muito sobre o compromisso assumido que é colocado em prática. Outra ação de destaque em relação à valorização das mulheres é o programa de treinamento com Senai chamado “A indústria também é delas”. Por meio dessa parceria, conseguimos capacitar mulheres para a área de operações na parte fabril – muitas são absorvidas por nossas fábricas, mas outras tantas saem prontas para conquistar o mercado.
Falando do pilar governança: como a Ingredion Brasil traduz a estratégia global no contexto local?
No ano passado, estruturamos o Conselho de Governança regional quase espelhando o global de sustentabilidade. A proposta é analisar o que faremos estrategicamente, onde vamos acelerar dentro das nove categorias. Tudo pensando em dar ritmo à agenda, para que não sejam projetos finitos, para que haja sempre continuidade. Para tanto, mudamos a estrutura interna: nossa gerente de sustentabilidade reporta para o global e, agora, também diretamente para mim. Isso porque, a sustentabilidade deve ser uma estratégia de negócio e não uma área da empresa. Ela nos dá competitividade como negócio, então as discussões têm de estar na liderança. Eu, como presidente, devo respirar sustentabilidade no dia a dia.
Comente sobre o a implementação do uso de Life Cycle Assessment (LCA), metodologia que avalia o ciclo de vida de um produto para calcular os impactos ambientais.
Estamos mapeando a pegada ambiental de dois de nossos produtos mais complexos para medir o impacto deles e poder passar essas informações para os nossos clientes, para que eles possam ter mais transparência no cálculo da pegada ambiental do produto deles. Sabemos que a maioria das empresas tem mais dificuldade com o impacto no escopo 3, que depende da cadeia, e não adianta ela melhorar seu processo produtivo se a matéria-prima não estiver com sua pegada clara. Dessa forma, o fabricante consegue somar a pegada da matéria-prima com a dele e oferecer esses dados com total transparência para o consumidor, democratizando a informação.
Para concluir, fale sobre a sua visão de futuro em relação à agenda ESG.
Meu sonho é que ESG vire uma forma de trabalho. A sustentabilidade precisa deixar de ser colocada como uma área da empresa, ela deve estar incorporada na cultura. Na outra ponta, cada vez mais os consumidores querem comprar produtos que tenham sua pegada transparente e com impactos positivos. Sendo assim, não imagino uma empresa bem sucedida que não tenha essa cultura de sustentabilidade. E minha aspiração é participar dessa transformação. Como empresa, a Ingredion tem a missão de ser um catalisador, acelerando o processo de mudança.
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