Até 2015 o grupo nacional de hospitais e unidades de saúde Rede D’Or São Luiz não conseguia saber exatamente qual era seu impacto ambiental. Enquanto um de seus hospitais pesava os resíduos por quilos, o outro media por contêineres. Era preciso dar o primeiro passo: arrumar a casa, implantar métrica, padronizar as práticas e, aí sim, apresentar os resultados e impactos.
“As práticas da empresa estavam desalinhadas. E é uma premissa básica: não tem como fazer gestão, se você não mede. Quando você começa a mostrar para a diretoria os resultados, os indicadores, você consegue promover projetos”, conta Ingrid Cicca, gerente de sustentabilidade da rede.
Os resultados deste alinhamento apareceram rápido e, não por acaso, a empresa passou a colecionar premiações ligadas à agenda ESG. A lista é longa: Melhores do ESG, no setor de saúde, promovido pela revista Exame por dois anos consecutivos (2022 e 2023); nota “B” no Carbon Disclosure Project, que avalia impactos ambientais de empresas, em 2022; melhor classificação entre as empresas latino-americanas segundo a consultoria internacional S&P, que avalia indicadores ESG, e a quarta melhor classificada no ranking global; selo ouro no Programa Brasileiro GHG Protocol (GHG Protocol), que classifica os inventários corporativos de emissão de gases de efeito estufa. Conquistou ainda outros três destaques em índices internacionais que avaliam a área de sustentabilidade.
“Quando você reporta o indicador para o mercado, mesmo sem ter maturidade, as áreas se forçam a estabelecer mecanismos de gestão.”
COMO A EMPRESA CHEGOU LÁ
Oito anos atrás, ainda engatinhando nos cuidados com o meio ambiente, a Rede D’Or lançou seu primeiro relatório de sustentabilidade. Dois anos depois, em 2017, estabeleceu uma política robusta de meio ambiente e criou uma comissão de sustentabilidade.
A partir dali foi possível avaliar e comparar o funcionamento de cada hospital – qual gastava mais energia elétrica, por exemplo, ou desperdiçava uma quantidade maior de água. “Fomos percebendo que um determinado hospital gastava mais energia ou tinha uma produção menor do que outros. Então a gente precisava investir lá em eficiência energética”, lembra a executiva.
A rede investe pesado em automação do sistema de climatização e atualiza constantemente equipamentos ultrapassados. O retorno financeiro do investimento (alto) chega logo. Segundo o último relatório da empresa, as ações de eficiência energética custaram R$ 1 milhão – e geraram uma economia bruta de R$ 2,2 milhões.
Outro ponto importante foi a adesão, em 2019, ao Mercado Livre de Energia, que possibilitou a livre negociação com os fornecedores. Hoje, 41 hospitais da rede já estão no mercado livre de energia – e, ainda neste ano, o número deve chegar a 74 unidades, o que representa 98% da empresa.
Para acompanhar as economias no gasto de energia, a Rede D’Or também investe em eficiência hídrica. As unidades captam águas da chuva para limpar as áreas externas e reaproveitam a água condensada dos aparelhos de ar-condicionado.
“Hoje vemos o avanço da cultura de compartilhamento. Os hospitais nos procuram para compartilhar suas boas práticas. É preciso ter a preocupação com antes, durante e o depois de cada projeto implementado. Eu sempre digo: sustentabilidade tem um começo, mas não tem fim, é uma jornada contínua”
OS DESAFIOS DA ÁREA DA SAÚDE
Discutir projetos de sustentabilidade não empolga muito os profissionais da área da saúde, segundo Cicca. “Ainda não há aquela percepção do quanto é importante falar disso na saúde. Existe aquela visão de que não somos uma indústria que polui. Então por que a gente precisaria falar disso aqui dentro? Obviamente que precisamos até porque o setor de saúde é impactado direto e indiretamente por essa questão”.
A redução dos impactos ambientais – que são muitos, sim – passam por todas as partes. O óxido nitroso é um exemplo. Utilizado em anestésicos, nas salas cirúrgicas, esse óxido tem um potencial de aquecimento global 298 vezes maior do que o CO2.
“A gente fez recentemente um amplo engajamento com todos os anestesistas da rede, mostrando esse cenário do óxido nitroso, por que isso está conectado com o clima. Estamos tentando estabelecer um protocolo para verificar o que pode ser minimamente estabelecido como padrão para o uso deste tipo de gás anestésico”, relata Cicca. Para reverter o quadro, engajar e capacitar seus profissionais no tema, a Rede D’Or investe também em cursos de ensino à distância (EAD).
Além dos recursos e investimentos em redução dos impactos, também há uma preocupação com os fornecedores. “Temos parcerias com eles de logística reversa, isso otimiza as entregas e gera um volume menor de resíduos. Usamos alguns caminhões elétricos também. E adotamos critérios de sustentabilidade na compra, prevendo um volume menor de resíduos”.
Com programas de sustentabilidade sólidos, após oito anos de implementação, a empresa projeta metas para o futuro. Até 2030, o plano é reduzir em 36% as emissões relativas de gases de efeito estufa e zerar, até 2050, as emissões de carbono. Pretende ainda expandir a adesão ao projeto de eficiência hídrica – atualmente apenas seis unidades fazem parte – e replicar os resultados: 12% de redução de consumo de água. E, por fim, almeja atingir uma taxa de reciclagem de 30%. É um belo desafio.
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