Imagine que você quer encontrar os melhores parceiros para seus projetos ESG, mas não sabe como fazer isso. O que acha, então, de começar ouvindo um coletivo de executivas negras, especializadas em marketing e publicidade, prontas para achar (e trazer) estas conexões? Pois é mais ou menos isso que a publicitária Daniela Benoit, que acumula 30 anos de experiência atuando no mercado publicitário de grandes organizações, propõe ao fundar o Manas.
“As empresas estão em busca de um propósito, o mercado está carente disso. Existe uma intenção de mudar, de encontrar bons parceiros, e bons projetos. Mas ninguém sabe direito por onde começar”.
O Manas nasceu para criar pontes que façam sentido, que tenham valores embutidos. Conecta marcas a pessoas para realizar projetos de comunicação, marketing e publicidade ligados aos temas de ESG. E, em um ano de vida, já conta com nomes importantes no portfólio, como Dom Filó, líder do Movimento Black do Brasil e a Nós Outdoor Social.
Em entrevista a NetZero, Daniela explica como vem usando sua expertise e seus contatos para fazer disso um negócio que faz bem para todo mundo – inclusive para seu coração.
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NETZERO: De que forma você chegou à conclusão de que sua agenda poderia ser um empreendimento de valor para os dias de hoje?
DANIELA BENOIT: Não foi do dia para a noite. Foi um processo: tenho quase 30 anos de publicidade, trabalhando em grandes corporações, em que fui acumulando contatos. E também dificuldades, decepções. Quanto mais alto eu chegava nas empresas, mais eu sentia que tentavam me expelir. Era como se eu fosse um micróbio dentro de um organismo. Tive dois burnouts. Neste último, eu passei a entender melhor minha jornada, e uma grande amiga me chamou para participar do curso de Conselheira 101 (projeto criado em 2020 por um coletivo de mulheres, que tem como objetivo ampliar e desenvolver lideranças negras sobre o papel dos Conselhos de Administração e ainda estimular o networking entre as participantes com a comunidade de governança corporativa). Fui uma das poucas escolhidas. E me perguntaram: qual é seu talento? Eu não soube responder, me baixou aquela síndrome da impostora.
Entretanto, ali passei a perceber a minha capacidade de entender o comportamento humano e conectar pessoas. Este ainda é um ambiente ainda muito masculino, os homens sabem fazer essa network, conectar um ponto ao outro e fazer disso um negócio. Justamente este também é meu talento: gerar negócios.
A partir daí você desenhou o Manas? Explique como você pensou o coletivo.
Neste mundo que cada vez mais se automatizando, unir os pontos, é um dos talentos mais desejáveis. Então pensei em fazer disso um negócio – mas teria que ser algo de impacto social. Para começo de conversa, pensei: como eu poderia ensinar outras mulheres pretas, que tiveram muito menos acesso que eu à educação, a serem executivas? Fui buscar estas mulheres de um projeto social, o Libelo, que trabalha com mulheres em situação de vulnerabilidade. Trouxe boa parte delas para trabalhar comigo. São mulheres negras, trans, gordas. Ensino a elas como devem se apresentar no ambiente corporativo.
Tenho uma pessoa do meu time, por exemplo, que já foi empregada doméstica. Ela tem o hábito de sempre pedir desculpas ao falar. Explico que aqui ela está falando de igual para igual.
É uma mudança de postura mesmo.
Sim. Como eu estava criando um negócio, queria criar algo útil e que fosse um ambiente em que mulheres poderiam ser mulheres sem sofrer por isso. Pode ficar menstruada, a gente entende quando estão de TPM, enfrentando mau humor ou dores intensas. Pode sair pra buscar filho na escola. O trabalho é de empoderamento mesmo. Hoje tenho mulheres super capacitadas, treinadas por mim. Muito mais preparadas do que elas precisam ser.
Você passou por estes tipos de dificuldades na sua trajetória profissional?
Não. Sou uma pessoa de classe média. Nunca passei fome, nunca morei em favela. Falo quatro idiomas. Morei um período em Londres, depois na costa da França, numa ilha chamada Guernsey e na Ilha das Bermudas. Abri escritórios em países como México, Colômbia e Peru. Ou seja: eu não tenho esta vivência de vulnerabilidade. Entretanto, busco entender os contextos: vou muito à favela, preciso saber melhor do que elas vivem. Eu quero pavimentar a rua para as próximas gerações.
Qual o foco do Manas?
A gente mostra e prova para as empresas o potencial das periferias e dos criadores periféricos. Há um potencial de consumo imenso. Mais da metade dos lares brasileiros é liderado por mulheres, a maioria negra, mães solteiras. Como as marcas demoraram tanto para entender isso? É um olhar que vem do ponto de vista do lucro mesmo. Você gasta milhões em publicidade e simplesmente não fala com este público?
No Manas temos um protagonismo útil. Todo mundo aqui tem que ganhar: o consumidor, a economia, o empresário, o ambiente. Mostramos para as empresas que você pode ter propósito e ganhar dinheiro. Ou seja: direcionamos estas empresas para aquilo que interessa. Percebemos que o mercado está carente disso. Todas as empresas estão buscando um propósito – ajudamos a achar este propósito e a costurar conexões que vão fazer diferença. É um empurrãozinho para quem não sabe por onde começar.
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