“Histórias bem contadas mudam o mundo”, diz Roberto Nascimento, executivo da indústria da comunicação

Você já parou para pensar o que te faz sair do sofá e tomar uma atitude para ajudar a melhorar o mundo? Talvez um destes gatilhos esteja justamente na tela diante dos seus olhos: um filme, uma série, um vídeo. Pois é isso: a indústria do entretenimento prende a atenção humana e mexe com suas emoções. É por isso que o ESG tem um significado ainda mais forte para este setor.

“O ESG para o entretenimento é maior. Somos contadores de histórias do mundo real. Quando você se apropria de uma história e a transporta para a ficção, você envolve e engaja o público de forma potente. E pode mudar a vida de quem está assistindo”, diz Roberto Nascimento, também conhecido como Naná, Vice-Presidente de Vendas Publicitárias da Warner Bros. Discovery no Brasil.

Com mais de 40 anos de experiência na indústria da comunicação, Nascimento é hoje uma das vozes mais respeitadas do setor no país. Na entrevista a seguir, ele fala sobre as apostas do ESG no entretenimento e analisa com precisão de que forma caminham – ou devem caminhar – as comunicações nestes tempos velozes e furiosos de consumo.

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NETZERO: Em que momento está o ESG na indústria do entretenimento?

ROBERTO NASCIMENTO: O ESG vem ganhando cada vez mais espaço, desde o olhar mais sustentável para o negócio, até a forma de lidar com pessoas e a transparência. Mas eu acredito que a minha área tem uma maneira diferente de puxar o ESG: a conscientização do mundo por meio de histórias.

Como seria isso?

Dentro da Discovery, por exemplo, contamos histórias do mundo real: de pessoas, da vida delas. Dentro destas histórias estão discussões ambientais, de gênero, empoderamento feminino, de pessoas com deficiência, de diversidade. Isso sempre esteve presente em nossas produções. Somos contadores de histórias. Entendi ali o quão potentes podem ser estas histórias contadas de forma correta, o quanto isso engaja o público, faz com que ele se envolva no tema. Quando a história mexe com as pessoas, ela está lá na frente. E pode sim mudar o mundo.

E dentro do ambiente corporativo?

O perfil das pessoas que trabalham no nosso setor é muito engajado. Nossas equipes tem um olhar muito adiante em diversas questões, como de meio ambiente e equidade, por exemplo. Então, isso ajuda muito na tomada de decisões – nós, as lideranças, estamos na ponta desta conversa. Percebo ainda que as pautas de governança e compliance também estão muito avançadas: de que forma nos relacionamos com a equipe, com fornecedores, com stakeholders. A transparência das operações, de estarmos atuando de forma correta dentro deste ambiente.

Como você acredita que o consumidor participa deste processo?

O consumidor e a sociedade estão atentos às suas práticas. Não dá para atuar da mesma forma como atuávamos há 20 anos. Eu diria que a sociedade empurra as empresas para um modelo de negócios diverso, transparente, preocupado com o impacto do que produz. Existe uma forte crítica externa. E estamos falando de modelos de negócios globais, de longo prazo, que pretendem durar.

Podemos dizer que vivemos um momento de revolução das comunicações?

Sem dúvida. A grande revolução é a hiperconectividade, ou seja, todos têm voz. Isso coloca a indústria da comunicação em outro lugar. Vivemos uma aceleração brutal na forma de buscar informação e isso nos coloca numa outra posição como indústria. Convivemos com muitas informações, algumas de qualidade, outras não, que engajam muito mais gente do que antes. Isso nos leva a repensar no papel das mídias, qual seu posicionamento perante as audiências.

Hoje você tem um mundo de produção de conteúdo. Antes a quantidade era menor, funcionava de um jeito diferente, em um ambiente mais controlado. Agora, por exemplo, você encontra pessoas muito boas que antes não conseguiam produzir conteúdo porque o ambiente era muito restrito. Ou seja: a produção é maior e a acessibilidade também é muito maior. Quando a gente fala em democratização da informação isso é um barril de pólvora.

Mas isso não está descontrolado?

Claro que vamos ter que ajustar. Quantas pessoas estão agora assistindo meu conteúdo e que antes não viam conteúdo nenhum? Milhares. Isso é muito positivo. Mas precisamos mudar a cabeça. Por exemplo: antes achávamos que o conteúdo das redes não eram concorrentes para o streaming. Mas é sim. O vídeo engraçado do cachorrinho é concorrente sim: a pessoa vê o cachorrinho no celular e não vê o que você produz.

Qual a parte ruim disso?

A gente obsolesceu mais rápido do que deveria. Criou-se uma grande onda de que tudo pode, não se paga nada, todo mundo pode fazer o que quiser nas redes. Ok, é uma grande revolução, sim. Mas estamos na tendência de obsolecer depressa, ficar ultrapassados. A velocidade é muito mais rápida do que aquela que estamos. A sensação é a de que estamos sempre atrás do bandido.

E para onde aponta o futuro?

Tem um movimento muito importante acontecendo no streaming. Tenho 40 anos de mercado. Sou um cara de consumo linear, estou habituado a isso. Mesmo assim me encanto com a possibilidade de romper com isso e, por exemplo, poder assistir o que eu quiser e na hora que eu quiser. Isso é uma ruptura. Consumir o que você quer na hora que você quer.

E qual a grande transmissão no futuro? Não tenho resposta. Estamos num ritmo de necessidade de produção tão intenso que não tem como pagar isso. A velocidade de consumo é muito rápida. Como ofertar conteúdos com essa rapidez sem perder a qualidade? Talvez a gente tenha que reduzir, rever o modelo. Como manter o negócio desta forma? É um desafio. O importante é a sustentabilidade: o negócio precisa ser perene, continuar, e com práticas responsáveis.


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