O desafio das mudanças climáticas no mundo corporativo: está na hora de repensar a forma de fazer negócios

Sabemos que negócios e mudanças são uma combinação perfeita para o bem e para o mal. Aqui entram as mudanças climáticas que, anunciadas desde o século XIX, deixaram de ser previsão para se tornarem realidade. Parafraseando Rita Lee: clima é novela, tempo é cinema. Isso significa que as mudanças deverão ser profundas, de longa duração e com efeitos não imaginados.

O desafio das mudanças climáticas pode ser encarado pelas empresas de duas formas: elas têm como opção transformar essa questão em grandes oportunidades para si próprias e para a sociedade como um todo, dando contribuições efetivas para o desenvolvimento sustentável do nosso planeta, ou trabalhar contra, contribuindo para o seu próprio fim e para o agravamento da crise climática.

A comunidade científica concorda que os combustíveis fósseis são a maior causa da crise climática, o que torna a transição energética em si um elemento gerador de negócios e investimentos. Para o Brasil, a ampliação do uso de energia de matriz renovável é um fato. No horizonte próximo temos a geração do hidrogênio verde, que depende deste insumo e de água – ambos abundantes no país.

Se olharmos para trás e observarmos o que aconteceu durante este ano, é possível encontrar diversos exemplos de crises e adversidades que, na verdade, representam oportunidades de grandes negócios.
Vejamos o caso do Rio Grande do Sul: o estado sofre, há meses, com tempestades constantes, isso logo após um longo período de chuvas abaixo da média. Já que a infraestrutura naquele território foi pensada para um clima de chuvas regulares ao longo do ano, iniciativa privada e governo poderiam se unir para atualizar o sistema de represas locais, tornando possível acumular a água das estações chuvosas e usá-la nos períodos de pouca chuva. Outra oportunidade, esta no setor agrícola, seria cultivar com novas tecnologias, como a irrigação nos Pampas.

Já na Região Nordeste, o clima mais seco abre outras portas. Com o sertão do Piauí cada vez mais seco, a rentabilidade das plantas solares aumenta. No Vale do São Francisco, a diminuição de chuvas ameaça a produção de energia hidroelétrica mas deve causar aumento na velocidade do vento, o que tende a ampliar a produção dos parques eólicos já instalados na área.

Mudanças rápidas no volume dos rios amazônicos também estão acontecendo. Para fazer uso dos benefícios da geração de créditos de carbono, empresas podem aproveitar essas alterações para financiar o reflorestamento de áreas degradadas, seja para preservação ou uso agrícola. Vale lembrar que existem muitos recursos internacionais para isso!

Por fim, não podemos relembrar 2023 sem citar as nove ondas de calor que atingiram o país. Além de outras consequências, as altas temperaturas mudam o comportamento das populações urbanas, que passaram a ir à praia de noite e a frequentar mais os parques e outras áreas públicas. Estes hábitos mais saudáveis, que incluem a prática de esportes ao ar livre, criam a oportunidade para a construção de áreas comerciais não climatizadas e reurbanizadas dentro das cidades.

O que quero mostrar com esses exemplos é que o clima mudou e a forma de fazer negócios também precisa mudar. Para que as empresas possam manter sua competitividade e, mais importante, contribuir para evitar os impactos mais devastadores das mudanças climáticas, o tema deve estar no centro do planejamento de todas as organizações.

A frase de Antoine de Saint Exupéry, que está no relatório de 2018 do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), encerra o assunto: “Quanto ao futuro, não se trata de prevê-lo, mas de torná-lo possível”. E, talvez, sejamos capazes de construir um futuro melhor do que o previsto.

**Ana Lúcia Frony é meteorologista e CFO do Climate Change Channel (C3 TV).


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