Oito tendências de sustentabilidade que vão influenciar o seu jeito de pensar, empreender e liderar negócios

No final de janeiro, um mês antes do coronavírus nos impor o mais radical isolamento social da história da humanidade, a sustentabilidade surgiu como tema da famosa carta aberta de Larry Fink (CEO da BlackRock) e também das discussões do Fórum Econômico Mundial. 

Na pauta da missiva de um do maiores investidores do planeta e do evento de Davos, ambos muito aguardados nos mercados, destacava-se uma mesma preocupação: a transição de um capitalismo de acionistas para outro focado em partes interessadas — e a ideia, quase subversiva, de colocar o propósito antes do lucro.

Àquela altura, dada a conjunção de circunstâncias, não tive nenhum dúvida de que o tema sustentabilidade, ao contrário de outros anos, ganhara inusitada relevância. Restava saber se sua trajetória seria, como na crise econômica mundial de 2008, a de um voo de galinha ou de águia. 

Coube à pandemia oferecer logo uma resposta. E uma boa resposta: com a ascensão do ESG (nome de batismo de sustentabilidade entre os financistas) e a valorização da conceito pelos donos do capital, o interesse das empresas acelerou de zero a 200 quilômetro/hora em 10 segundos

Arrisco atribuir o fenômeno ao fato de que, ao nos colocar a todos numa posição de extrema vulnerabilidade, questionando a fragilidade da vida,  a pandemia adiantou reflexões sobre a urgência de repensar nosso modelo de desenvolvimento econômico, reconhecidamente intensivo em uso de recursos naturais, abuso de recursos humanos e emissões de gases do efeito estufa.

Para mim e a equipe da Ideia Sustentável, a pandemia foi um bom pretexto para analisar 80 documentos mundiais sobre sustentabilidade, estudar mais de 40 fontes e ouvir 20 líderes empresariais brasileiros em quatro seminários virtuais, organizando um estudo denominado 11 Tendências de Sustentabilidade Empresarial no “Outro Normal”. 

Abaixo, compartilho oito dessas tendências na forma de breves e necessárias reflexões para quem quer empreender, liderar ou atuar em negócios nos próximos anos.

1. Propósito antes do lucro. Está em curso um processo de ressignificação das empresas. E também uma revisão na noção de sucesso empresarial. O capitalismo que gera valor para as partes veio substituir o velho modelo do business as usual, em que se aceitava facilmente o vício de privatizar resultados para acionistas e socializar impactos para os demais públicos de interesse. Esqueça a ideia de ser o melhor “do mundo”. Prepare-se para ser melhor “para o mundo”.

2. Reumanização dos humanos. As pessoas não poderão mais ser tratadas, de modo utilitário, apenas como “recursos” cujo valor depende da função que exercem e do tempo destinado a ela. Indivíduos integram famílias, comunidades e sociedade. Segundo o economista Muhammad Yunus, o “homem econômico” no qual nos transformamos para atender ao pensamento econômico dominante dará espaço novamente ao “humano real”. Cada vez mais, as pessoas desejam se relacionar com organizações cujos valores se afinam com os seus e que demonstrem cuidado, escuta afetiva, respeito às diferenças e preocupação genuína com o seu bem-estar.

3. Menos competição, mais cooperação. No auge da pandemia, todos assistimos, com alguma surpresa, ao movimento de empresas concorrentes trabalhando juntas para o bem coletivo. A cooperação não só se mostrou possível como necessária. Se fomos capazes de exercitá-la durante a tempestade, por que não podemos realizá-la em tempos de bonança? Imagine você as grandes empresas brasileiras reunindo os seus recursos para enfrentar os graves problemas socioambientais do país? Migrar de uma visão “egocêntrica” para outra “ecocêntrica” só pode nos fazer bem como sociedade.

4. Ascensão da noção de interdependência. A crise foi uma espécie de crossfit para a noção de que tudo e todos estamos interligados. Nossas escolhas de consumo e produção determinam o mundo em que queremos viver. Não existe mais o “fora” e o “dentro”. A prosperidade de uma empresa só é boa se alcança todos os seus públicos, principalmente os mais vulneráveis.

5. Da transparência à hipertransparência. Saiu fortalecida, no meio da pandemia, a empresa que soube ser transparente, comunicou-se bem com os seus públicos e prestou contas à sociedade. Colaboradores, clientes e comunidades querem cada vez mais empresas orientadas por valores, por propósito e por compromissos claros em relação à sociedade.

6. Mais do que zerar impactos, regenerar. Já se sabe que apenas eliminar externalidades não será suficiente para barrar as mudanças climáticas ou o esgotamento de recursos naturais. Será necessário investir em tecnologias disruptivas e em novos modelos de negócio que gerem impacto positivo para o meio ambiente e para as comunidades.

7. Negócios como parte da solução, não do problema. A crise trouxe inúmeras oportunidades para empresas que desejam acelerar a agenda de sustentabilidade. Se quiserem ser parte da solução, empresas e empreendedores precisarão adotar energias renováveis, promover a economia circular, preservar as florestas, regenerar ambientes degradados, respeitar a diversidade e gerar trabalho e renda.

8. Hora e vez da liderança orientada por valores. A transição para um modelo de capitalismo mais ético, transparente, respeitoso em relação às pessoas e ao meio ambiente pressupõe a condução de líderes de um novo tipo, com outro modelo mental. São líderes mais empáticos, cuidadores, inclusivos e femininos. Capazes de praticar a escuta afetiva e de propor relações mais horizontais. E conscientes de que as decisões de negócios são sobretudo decisões de ordem humana.

Para saber mais sobre as 11 Tendências de Sustentabilidade Empresarial no “Outro Normal”, acesse  https://lnkd.in/erjzvDS.

Ricardo Voltolini é CEO e fundador da consultoria Ideia Sustentável e da Plataforma Liderança com Valores. Mentor, conselheiro e consultor, atendeu mais de 350 empresas. Já ministrou 1 290 palestras e workshops e escreveu 11 livros, incluindo Conversas com Líderes Sustentáveis (Senac-SP, 2011), Escolas de Líderes Sustentáveis (Elsevier, 2014) e Sustentabilidade Como Fonte de Inovação(Ideia Sustentável, 2015).


Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *