Educação corporativa ESG: precisamos falar (e com urgência) sobre a formação de lideranças

Digamos que você seja hoje a pessoa responsável pelo treinamento e desenvolvimento de lideranças na empresa em que trabalha. Você precisa resolver de que forma vai abordar a questão da diversidade na companhia – e não adianta dizer que já existem muitas ações voltadas para o tema – aqui, estamos falando de uma cultura contínua, de longo prazo, e fundamental. Será mesmo algo fácil e rápido de resolver dentro do mundo corporativo? Este é apenas um dos dilemas que profissionais estão vivenciando quando o assunto é ESG.

“Até bem pouco tempo, ESG não era estratégico. Hoje ele é urgente. De repente caiu na mesa dos tomadores de decisões um pacotão embalado com uma série de dilemas que ainda não estão bem resolvidos. O assunto é muito novo – logo, é compreensível que os profissionais não estejam completamente afinados”, analisa Ricardo Voltolini, CEO da consultoria Ideia Sustentável, e um dos primeiros consultores em sustentabilidade empresarial do Brasil.

Segundo Voltolini, é preciso ter um olhar profundo sobre estes assuntos. E a educação corporativa ESG é o caminho mais interessante para a construção destas novas competências e de uma nova cultura.

“Ninguém está tirando nota 10. Não é maratona, nem corrida de 100 metros. Não tem ninguém que possa dizer que sabe tudo sobre este tema. Trata-se de aplicar o princípio aristotélico: ‘toda vez que aprendo algo tenho noção do quanto me falta aprender’. Esta obstinação eleva o patamar de rigor e critério.”

Ricardo Voltolini, em aula sobre sustentabilidade empresarial na Scaled. Foto: Divulgação.

IMPORTÂNCIA SEM PRECEDENTES

Embora o consumidor e o grande público ainda não saibam muito bem o que significa ESG, este conjunto de ações ambientais, sociais e de governança praticadas pelas empresas são fundamentais e indiscutíveis. As práticas ESG garantem que a empresa mantenha sua relevância no mercado com o passar do tempo, além de melhorarem o retorno financeiro, pois atraem mais investimentos e clientes. É o famoso caminho sem volta – que ainda está nos primeiros passos de pavimentação. 

Duas questões complexas e que resumem um pouco os desafios desta agenda atual são: Como desenvolver novas competências ESG? E como desenvolver uma cultura organizacional favorável ESG? São perguntas difíceis, especialmente para serem respondidas de acordo com os desafios empresariais de cada um.

A solução está na educação corporativa. “Recomendamos uma estratégia de desenvolvimento de pessoas para ESG. O pensamento estratégico para educação corporativa na empresa não pode ser fragmentado; deve ser contínuo, ou seja, um processo. Não adiantam apenas palestras pontuais. Para desenvolver um grupo de líderes o pensamento deve ser sistêmico e que funcione durante um período. Assim é possível criar uma cultura ESG e um processo de desenvolvimento contínuo de líderes, não o que chamamos de ‘espasmódico’”, aponta Voltolini. 

Resumindo, o primeiro passo, segundo ele, é preferir um olhar sistêmico em vez de um olhar fragmentado, além de optar por uma estratégia de desenvolvimento de líderes ESG, não apenas de ESG. Há quatro dimensões a serem trabalhadas com estes profissionais. Voltolini aponta que os líderes de hoje devem ser cada vez mais:

Cuidadores – atentos às necessidades das pessoas, que pratiquem a escuta afetiva;

Inclusivos – que olhem para a diversidade como um campo de riqueza e não algo a ser tolerado;

Éticos e transparentes – devem expor mais vulnerabilidades, discutir mais suas decisões com os outros e entender que o lucro precisa beneficiar pessoas e meio ambiente.

Ecocêntricos – que tenham desejo de construir empresas melhores para o mundo e não as melhores do mundo; que coloquem a inovação a serviço desta ideia.

“O desafio não é ter ações pontuais de treinamento de ESG e sim uma cultura favorável ESG e esta cultura depende muito da área de gestão de pessoas e da alta liderança, que tem que dar o tom”. 

COMPETÊNCIAS 

Ao entender melhor quais os desafios ESG a serem enfrentados, é possível compreender também as competências que precisam ser desenvolvidas. Veja no quadro abaixo quais são elas:

“Qualquer programa de desenvolvimento de pessoas tem que considerar as três dimensões básicas: Conhecimento, Habilidades e Atitudes (sigla conhecida por CHA), com ênfase maior para Atitudes. Estamos discutindo aqui algo mais profundo: empresas devem se voltar às pessoas. ESG também valoriza informações não financeiras: dados humanos ou pessoais. Melhores humanos constroem empresas melhores para o mundo”, diz Voltolini.

Estas dimensões estão bem detalhadas na pós-graduação que acaba de ser aberta pela pela FAAP, em São Paulo, chamada Educação e Liderança para os Desafios ESG. Com a curadoria de Voltolini e elaborado em parceria com a Ideia Sustentável, o curso é o primeiro do Brasil com ênfase em inovação e sustentabilidade. Esta dupla, segundo Voltolini, é o que define o sucesso de ESG nos dias de hoje.

O curso contará com 10 grandes blocos: fundamentos de ESG; tendências e desafios; gestão ESG; estratégia de ESG; governança ESG; liderança; comunicação; ESG e relações com o mercado; balanço de autoaprendizagem; por fim, a entrega de um paper ou trabalho de conclusão. Em todos os blocos haverá conversas com líderes e executivos para orientações a temas do mercado, tudo fundamentado na realidade das empresas, em nos desafios que estão enfrentando. Além da pós-graduação, a FAAP se comprometeu a incluir conteúdos de ESG em todos os seus cursos de graduação.

“Esta pós reflete uma visão atenta de quem está há mais de duas décadas vivendo estas discussões nas empresas. É endereçado para quem quer estar orientado por valores e inovar a partir dos grandes desafios que as corporações vivem. O programa faz apostas em diferenciais, em estruturas metodológicas mais dinâmicas, em cases focados na realidade do mercado, além de uma bibliografia robusta”, finaliza Voltolini.


Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *