Sexo consciente: preservativo 100% sustentável faz sucesso na Europa e gera receita milionária a empresa alemã

O preservativo é aquele tipo de lixo que precisa (e deve) ser gerado. Não custa lembrar disso sobretudo nesta época de Carnaval, quando os ânimos estão exaltados. Quando a festa termina, porém, o descarte inadequado faz com que os esgotos das cidades estejam entupidos destes materiais, cujo material é poluente e simplesmente não pode ser reciclado.

A sustentabilidade deste produto essencial é um belo desafio para a indústria – algo que, na Alemanha, a empresa Einhorn já descobriu e conquistou o mercado consumidor. Em 2015, durante uma compra de preservativos com a namorada, o alemão Philip Siefer se deu conta que não havia alternativas ecológicas na Europa – as camisinhas comuns levam em sua composição a caseína, uma proteína encontrada no leite dos mamíferos para deixar o látex mais macio. De olho nesta fatia do mercado global – que vale US$ 8 bilhões – Siefer se juntou ao amigo Waldemar Zeiler e, juntos, decidiram apostar num produto para o sexo totalmente sustentável e, de quebra, vegano. Lançaram uma campanha de financiamento coletivo que recolheu 100 mil euros.

“Ouvíamos a mesma pergunta por parte dos doadores o tempo inteiro: ‘os preservativos são veganos?’. Ainda não tínhamos percebido que os preservativos tradicionais costumavam ter uma proteína animal”, contou Siefer à rede BBC.

Philip Siefer e Waldemar Zeiler, fundadores da Einhorn.

Assim nasceu a Einhorn, que significa unicórnio em alemão. A ideia é um preservativo sustentável de ponta a ponta: a caseína foi trocada por um lubrificante natural feito a partir de plantas e a empresa adquire látex extraído de forma ecológica por uma rede de pequenos produtores na Tailândia que recebem salários acima da média. Esses produtores evitam o uso de pesticidas e o objetivo é abolirem por completo o uso de químicos. Por enquanto, porém, a empresa ainda não conseguiu desenvolver uma embalagem livre de alumínio, embora o papel usado já seja reciclado.

ESTOURO NAS VENDAS

Para surpresa da dupla de empresários, o sucesso do produto foi instantâneo. Em 2019, a receita anual da marca já batia 5 milhões de euros. Foram mais de 4,5 milhões de unidades de camisinhas vendidas neste ano. A empresa também lançou produtos de higiene feminina feitos de algodão orgânico. “Ainda temos de nos beliscar para perceber que (o negócio) está forte”, disse Siefer.

Na expectativa de que valores de sustentabilidade sejam expandidos a outros negócios, Zeiler e Siefer assinaram uma espécie de manifesto ao fundar a Einhorn, que obriga a empresa a investir 50% de seus lucros em projetos sustentáveis – por exemplo, em projetos de compensação à emissão de CO2 e em uma fundação de promoção ao algodão orgânico.

“A empresa vende um pacote de sete de suas camisinhas no varejo a 6 euros (R$ 27,5), sendo que gigantes da indústria vendem um pacote com 8 por cerca de 5 euros (R$ 23). Mas explicamos que vamos reinvestir 50% de nossos lucros. Então cada centavo que você (varejista) tirar de nós agora (nos forçando a baixar nosso preço) você estará tirando de uma boa causa”.

SEXO CONSCIENTE

A Einhorn não é a primeira no mundo a ter esta ideia: a marca americana Glyde lançou uma camisinha vegana em 2013 e desde então outras alternativas sustentáveis começaram a surgir nas prateleiras do planeta. No Brasil, por enquanto, não temos nada parecido.

A maioria dos preservativos aqui ainda é feita de látex sintético e usa aditivos e produtos químicos que impedem a biodegradação. Por isso, as camisinhas não podem ser recicladas. Hoje, quase 30 bilhões de camisinhas são vendidas no mundo todo a cada ano – e a maioria é descartada nos aterros sanitários. 

As grandes indústrias de preservativos vem apostando, nos últimos anos, em pesquisas para melhorar a sensibilidade do produto, evitar alergias, melhorar o design, lançar aromas e sabores. O investimento em sustentabilidade ambiental, entretanto, não parece ser o forte da agenda.

Ao analisar o produto da Eisenhorn, Anna Sundermann, pesquisadora ambiental na Universidade Leuphana, da cidade alemã de Lüneburg afirmou à BBC:

“Redes de empresas como a Einhorn, que fazem pequenos produtos de nicho, podem fazer a diferença ao lidar com problemas sistêmicos, como criar uma rede sustentável na cadeia de suprimentos.”


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