Quem é e quanto ganha o profissional ESG? Saiba tudo sobre este mercado de trabalho em crescimento no mundo inteiro

Salários médios altos, mercado de trabalho em expansão com boas e variadas ofertas de emprego, oportunidades para especialistas de diferentes formações e uma possibilidade clara de conciliar carreira com propósito explicam porque cada vez mais jovens profissionais se interessam por ESG. É um fenômeno recente. Mas já capturado por estudos de fontes do mundo da gestão de pessoas.

O entusiasmo se justifica: desde que, há três anos, no início da pandemia, os investidores passaram a exigir mais atenção em relação aos riscos ligados às questões ambientais, sociais e de governança, as empresas se viram forçadas a incluir sustentabilidade na estratégia, identificar impactos, desenvolver planos de ação e, por tabela, ampliar seus quadros. Se há, cinco anos, um mesmo gestor de saúde, segurança e meio ambiente, o guardião solitário de sustentabilidade nas fábricas, cuidava sozinho dos três temas — até porque isso implicava uma rotineira agenda de prevenção de acidentes de trabalho e controle de ecoeficiência — hoje ele precisa de diferentes tipos de profissionais para apoiá-lo em desafios que caíram no seu colo, como os de diversidade e inclusão, mapeamento de stakeholders, gestão de energia, água e resíduos, redução de emissões de gases de efeito estufa e compras sustentáveis, só para ficar em alguns exemplos. 

O mesmo raciocínio se aplica às empresas de serviços que não possuem a figura do líder de SSMA (Segurança, Saúde e Meio Ambiente), ou às que já tinham uma área constituída de sustentabilidade, acima ou ao lado das instâncias operacionais: a ascensão do conceito de ESG – e a necessidade de construir respostas mais consistentes para os investidores sobre desafios ambientais, sociais e de governança – ampliou compromissos públicos, aumentou os focos de atuação e tornou mais complexos os objetivos, metas e métricas. Complexidade maior exige estruturas maiores. Estruturas maiores implicam mais posições no organograma.

Este cenário já seria suficiente para explicar o aumento na oferta de postos de trabalho. No entanto, é preciso considerar ainda, que, na lógica do ESG, evidências internas de sustentabilidade só geram valor para o negócio quando traduzidas, com rigor e transparência, na forma de aumento de valor econômico para o mercado.

Logo, se antes o círculo de sustentabilidade era ocupado quase que exclusivamente por especialistas em gente (RHs, assistentes sociais, psicólogos, comunicadores, sociólogos e planejadores de investimento social) e meio ambiente (engenheiros ambientais, florestais, de processos e de qualidade e técnicos formados nos diferentes temas da ecoeficiência), o ESG acrescentou duas novas camadas compostas por profissionais de direito e de finanças atuando respectivamente em governança e compliance; e na condução de processos como inclusão em ratings, mapeamentos de riscos e oportunidades, organização de fundos de investimento sustentáveis e realização de operações como green bonds e sustainability bonds. Os estratos profissionais costumam variar, em nível de importância e quantidade de postos, conforme a natureza do negócio, a extensão dos impactos e o tipo de capital (fechado ou aberto.) 

Ricardo Voltolini, CEO da consultoria Ideia Sustentável e co-fundador de NetZero.

NOVAS ABORDAGENS, NOVAS FRENTES DE TRABALHO

Há, sim, muitas oportunidades. Elas estão associadas ao evidente aumento do status estratégico dos temas de E, de S e de G, e à necessidade, por consequência, de contar com mais gente especializada nos quadros. Principalmente, em abordagens novas como economia circular, mapeamento e redução de emissões, design para a sustentabilidade, compras sustentáveis, energias renováveis, rastreamento de cadeia de valor, investimento social de impacto e relacionamento com stakeholders. 

Muitas empresas, no entanto, combinam a contratação de novos profissionais com a promoção de profissionais internos, oferecendo-lhes formação complementar. Isso ocorre, com mais frequência, nas organizações que já estão há algum tempo na jornada de sustentabilidade, dispõem de processos internos (ainda que restritos) e de uma estrutura (ainda que mínima) de profissionais ligados às atividades ambientais e sociais. 

ESG não representa um campo de oportunidades apenas para profissionais das ciências sociais. Há bastante espaço também para os de ciências biológicas e exatas. Para quem está à procura de uma chance no mercado de trabalho. Para aqueles já empregados que querem fazer carreira na área em bancos, empresas de bens de consumo, indústrias de transformação, mineração, varejo, saúde, energia, logística e muitos outros segmentos. Para quem, na faixa dos 40 anos, quer dar uma guinada na carreira à procura de uma ressignificação profissional.

SALÁRIOS

Pesquisas mais recentes mostram salários de até R$ 28 mil para cargos em ESG. São números que enfeitiçam jovens profissionais em busca de uma carreira com propósito. São cifras que servem como mote de propaganda para empresas vendedoras de cursos de ESG — e olha que elas se reproduzem na velocidade de coelhos.

Nunca é demais lembrar: ninguém começa uma carreira como CSO (Chief Sustainability Officer), cargo ainda raro no Brasil, o topo da cadeia alimentar para espécies profissionais da sustentabilidade. Está claro que as posições mais bem remuneradas, normalmente ocupadas por profissionais em cargos com status de C-Level, exigem uma experiência de, pelo menos duas décadas, com ênfase em um dos três temas e conhecimento geral dos demais – condição obviamente apenas compatível com uma minoria de profissionais. 

A maioria dos postos distribui-se em cargos como analistas, consultores internos, coordenadores, gerentes e supervisores. Os salários são, na maioria das vezes, ligeiramente superiores aos de áreas correlatas. Como eles abrigam profissionais de diferentes níveis e formações, muita gente, a princípio, pode se candidatar a uma vaga que – é bom frisar – nem sempre levará o carimbo “ESG” no anúncio.

Se você, que me lê, deseja ingressar numa carreira ESG, estude a empresa e veja se ela tem uma estratégia, uma política, compromissos públicos ou planos de ação claros para o tema. Leia criticamente o relatório de sustentabilidade da empresa. Analise se ele é auditado por terceira parte nos resultados e processos. Cheque informações com o entrevistador. Assim você evitará frustrações. As gerações Y e Z, fiscais de walk the talk, costumam ser implacáveis no julgamento da distância entre discurso e prática.

CARREIRA PARA PROFISSIONAIS DE DIFERENTES ÁREAS

Além de estudar a empresa, faça algo relevante por sua carreira em ESG. Estude. Muito. De forma disciplinada. Leia tudo o que estiver ao seu alcance (veja artigo sobre os 50 livros imprescindíveis, publicado aqui, em NetZero) para compreender cenários, tendências e desafios. Tem opções de programas educacionais (alguns até gratuitos) de curta, média e longa duração para todos os gostos e bolsos. Basta pesquisar. Há quem prefira — e tudo bem — complementar (especialização, MBA e mestrado profissional) a sua primeira formação acadêmica, o que significa, aprofundar-se em algo que já conhece e que o mercado remunera bem. 

Como o ESG é amplo, uma alternativa bem vinda é também agregar uma formação de outra área ou uma formação mais generalista. Um engenheiro que domine finanças sustentáveis pode ter mais oportunidades. Idem para um administrador que conheça mais sobre relacionamento com stakeholders. Ou um biólogo que entenda de frameworks, ratings e relatórios. Regra geral, tem surgido boas oportunidades de trabalho para engenheiros, administradores, economistas, advogados, tecnologia da informação, comunicadores e profissionais da área ambiental.

Há uma boa quantidade de oferta, no Brasil e fora do país, de cursos de pós mais generalistas. Alguns até gratuitos. Para evitar perda de tempo e dinheiro, antes de tomar a decisão, analise o programa (sua elaboração, em todos os detalhes de conteúdo e método), os professores (domínio conjugado de teoria e prática), a amplitude da trilha educacional (se cobre o conjunto de desafios de E, de S e de G) e a consistência da proposta pedagógica.  Reflita, principalmente, sobre quanto o programa pode adicionar valor ao seu currículo.

MERCADO VALORIZA PROFISSIONAIS COM VALORES E ATITUDE ESG

Boa formação acadêmica faz sempre a diferença. Mas não é o único fator competitivo na hora de tentar uma vaga de ESG. Experiência conta muito.

Formação decorre de conhecimento acumulado, e vem com a disciplina por aprender o que importa ao longo de um tempo. Experiência vem com o tempo de imersão num ou mais temas de ESG e pressupõe, em sua conta, além de conhecimentos, um ferramental de habilidades. Para formar a velha sigla CHA, que define o conceito de competência, falta focar as atitudes. O mercado gosta de chamá-las de soft skills. Já ouvi falar também em power skills. Prefiro nomeá-las como competências atitudinais. Elas estão ligadas a valores, crenças e modos de ser e estar no mundo, hoje cada vez mais valorizados no mundo corporativo.

Antes de descrevê-las, cumpre abrir parênteses. Assim como há cada vez mais jovens profissionais querendo atuar em empresas ESG, cresce também o número de empresas avaliando candidatos a vagas segundo um perfil de valores ESG. Quase a metade dos profissionais brasileiros entrevistados em pesquisa da consultoria Randstad (Workmonitor, 2022), feita com 30 mil profissionais de 34 países, afirmou não querer trabalhar numa empresa cujos valores não se afinem com os seus. Cerca de 49% da geração Z e 46% dos millenials não admitem trabalhar em companhias desinteressadas por diversidade e inclusão. 

Outro estudo, da Korn Ferry, concluiu que 71% dos novos talentos aceitam até mesmo uma redução de salário para estar numa empresa alinhada com os seus valores.  

Isso explica, claro, o esforço de employer branding de empresas por serem mais sustentáveis, diversas e inclusivas. Esclarece também, na outra ponta, por que, na hora de selecionar seus novos colaboradores, elas se utilizam de ferramentas específicas de assessment para identificar profissionais identificados com os seus valores. É uma via de mão dupla.

As empresas estão valorizando cada vez mais profissionais “cuidadores”, empáticos, orientados para o outro, capazes de praticar as escutas ativa e afetiva, solidários, justos e altruístas. Querem contar em seus quadros com pessoas inclusivas, dialógicas e horizontais, colaborativas, que estão abertas para aprender com a experiência do outro, abominam qualquer tipo de discriminação e respeitam as mais diferentes formas de diversidade. Desejam colaboradores éticos e transparentes, intuitivos, com alta inteligência emocional, forte autoconhecimento, que apreciem servir a causas e educar colegas. Preferem jovens profissionais capazes de enxergar de forma sistêmica, a interdependência entre os sistemas econômico, social e ambiental, que têm coragem para mudar modelos e práticas, que inovam para a sustentabilidade, acreditam numa visão positiva do mundo e conciliam trabalho com propósito. Se você, que me lê, se identifica com essas competências atitudinais, então, são boas as chances de agradar numa primeira entrevista.

**Ricardo Voltolini é CEO da consultoria Ideia Sustentável e co-fundador de NetZero.


Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *