Não tem como negar: um evento esportivo do porte das Olimpíadas causa um tremendo impacto no meio ambiente. E também não há como negar que os olhos do mundo inteiro estejam voltados para os jogos olímpicos de 2024. Como a França, que vem tentando liderar a agenda sustentável da Europa, pretende conduzir este mega evento?
“Tornar os rios Sena e Marne balneáveis. Este é nosso objetivo para 2024”, escreveu o presidente francês Emmnuel Macron em seu Twitter, referindo-se a um antigo sonho parisiense. Na semana passada, Macron, na presença do presidente Lula, formalizou uma promessa de financiamento climático de US$ 100 bilhões para os países em desenvolvimento, além da criação de um fundo para a biodiversidade e a proteção das florestas.
Diante de toda essa boa vontade ambiental, as Olimpíadas de Paris 2024 não poderiam ficar para trás. Os organizadores seguem reforçando que estes serão os jogos mais sustentáveis da história, com metade das emissões de carbono do Rio de Janeiro e de Londres.
O símbolo máximo da estratégia é potente: abertura e competições aquáticas no rio Sena, que corta a cidade e, como Macron preconizou, recebeu uma força tarefa para tornar suas águas próprias para banho.
O feito só será possível graças a um grande projeto ecológico de despoluição do Sena, que custou quase 8 bilhões de reais, de acordo com o Comitê Organizador. Um de seus destaques é um tanque com capacidade para reter 44 milhões de litros de água de chuvas em 24 horas, evitando que elas desaguem no rio, junto com o lixo da cidade.
“Construímos coletivamente um novo modelo para os Jogos para garantir que eles controlem seu impacto sobre o meio ambiente e sobre todo o planeta, unam as pessoas e sejam inclusivos, frugais e sustentáveis. Também queremos garantir que os Jogos ajudem a acelerar a transformação ambiental do mundo do esporte e das regiões, transmitindo um método, desenvolvendo ferramentas inovadoras e promovendo uma conscientização generalizada”, explicou Tony Estanguet, ex-canoísta francês e presidente do Comitê Organizador das Olimpíadas de Paris 2024, no documento oficial “The Legacy and Sustainability Plan For the Paris 2024 Olympic and Paralympic Games”.
AS SURPRESAS QUE PARIS PREPARA
Além das competições nas águas próprias do Sena, as Olimpíadas, que devem receber 10,5 mil atletas e 13,5 milhões de espectadores, há outros exemplos simbólicos de peso:
- Aproximadamente 95% das estruturas utilizadas, já existiam. O único local esportivo construído especificamente para essas Olimpíadas é o centro aquático de 5 mil metros quadrados, que vai receber competições de pólo aquático, mergulho e natação. Projetado com materiais ecológicos, será coberto com painéis fotovoltáicos, que garantem sua autossuficiência energética. Depois dos Jogos, deve se transformar em uma instalação para diversos outros esportes e aberta à comunidade.
- A Vila Olímpica também é projetada para ter eficiência energética, ser neutra em carbono e proteger a biodiversidade. Não contará com ar condicionado, mas com isolamento térmico e um sistema subterrâneo de resfriamento de água. A temperatura interna deve ficar entre 23 e 26 graus Celsius.
- Menus com pratos que não contenham carnes terão prioridade.
APOIO DA COCA-COLA
No mês passado, a prefeita de Paris Anne Hidalgo anunciou que serão banidos plásticos de uso único durante os Jogos. Não será permitido assistir às competições com garrafas plásticas comuns. O curioso é que a Coca-Cola é uma das patrocinadoras do evento e encontrou uma saída: distribuirá seus produtos em versões reutilizáveis, que depois serão redistribuídas.
“(Resíduos) plásticos continuam sendo um grande problema global: a cada ano, 14 mil mamíferos e 1,4 milhão de aves marinhas são mortos devido à sua ingestão”, disse o escritório de Hidalgo em comunicado que anunciava a proibição.
MENOS TOCHAS, MENOS GASES
Para reduzir a emissão de gases ocasionados pelo fogo, o número de tochas olímpicas será consideravelmente reduzido. Em Tóquio, em 2021, houve 10 mil tochas circulando – já no Rio, em 2016, 12 mil estiveram nas ruas. Mas, para não perder o brilho do evento, organizadores pretendem deixar a chama olímpica no topo da Torre Eiffel.
A ideia é aproveitar ao máximo os monumentos icônicos e levar as modalidades a cada local. A maratona, por exemplo, passará pelas ruas da cidade. Já o triatlo terá a largada em um pontão flutuante embaixo da ponte Alexandre III. Depois de nadar 1,5km pelo rio Sena, os atletas passarão de bicicleta pela avenida Champs-Elysées.
UNIÃO DE FORÇAS
O conjunto de estratégias, elaborado em colaboração com todos os stakeholders do movimento, incluindo Estado, cidade anfitriã, autoridades locais, comitês olímpico nacional e esportivo e paraolímpico e esportivo francês, empresas parceiras de marketing, sindicatos e organizações patronais e a sociedade civil como um todo, relembra as metas estabelecidas na fase de campanha da cidade.
Há referências para relações sociais, redução das emissões de gases de efeito estufa e compensação para atingir a neutralidade de carbono e eventos para promover a atividade física e o esporte entre jovens. E também funciona como um norte para a estratégia de sustentabilidade do evento, estabelecendo que os jogos:
1) Sejam considerados inspiradores: eco-responsáveis, com soluções sustentáveis, impulsionadores de crescimento e com apelo regional, abrindo oportunidades para todos.
2) Deixem um legado social e ambiental: promoção de saúde, educação e engajamento físico e de inclusão, igualdade e solidariedade e estímulo da transformação ambiental.
“Queremos que a cerimônia seja verdadeiramente popular, aberta a todos, única como experiência, muito inovadora e que faça sentido para os franceses, que transmita uma mensagem ao mundo”, resumiu o presidente Emmanuel Macron.
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