A seleção anônima pode ser uma potente saída para evitar a discriminação de candidatos e candidatas a empregos. Mas como um recrutador pode selecionar alguém sem saber com quem está falando? A Jobecam, empresa de tecnologia especializada na seleção de talentos, criou um software em que a pessoa aspirante ao cargo utiliza avatares especialmente projetados para descaracterizar cor da pele, sotaque, voz, cabelo e gênero. De acordo com Cammila Yochabell, fundadora e CEO da Jobecam, o principal objetivo é evitar práticas discriminatórias – ainda que inconscientes.
“Queremos reduzir os vieses inconscientes baseados em estereótipos físicos, comportamentais, de gênero, religião, etnia, enfim, todos que impactam nossa tomada de decisão. Ao eliminar tudo isso na entrevista deixamos falar mais alto a habilidade profissional do talento – é isso que importa, afinal”.
A empresa oferece 12 tipos de avatares 3D dinâmicos, mais da metade sem gênero definido, em que é possível ao candidato alterar o tom de voz, por exemplo. O desenho que aparece na tela movimenta corpo e braços. Há duas modalidades de entrevistas: a pré-gravada anônima, que não exige interação entre o recrutador e o profissional; e a entrevista anônima ao vivo, em que a interação é em tempo real, com voz robotizada. O nome também é alterado – o avatar tem nicknames com referências a cidades ou países conhecidos.
Fundada em 2016, a plataforma conta hoje com mais de 200 mil pessoas candidatas cadastradas gratuitamente e cerca de 40 grandes empresas clientes como Sírio Libanês, OLX, Novo Nordisk, Bradesco, Magalu, Neoenergia entre outras.
Segundo Cammilla, a iniciativa pode gerar até 70% a mais de inclusão de grupos sub-representados na seleção de talentos da empresa. Sem contar que estes mesmos grupos se sentem mais a vontade para se candidatar. Ela afirma que no Bradesco, por exemplo, após a adoção do software, houve um aumento de 30% na contratação de mulheres e 15% de pessoas negras para seu quadro de colaboradores. “A diversidade por si só é transformadora. Nossos avatares não são um chat GPT – eles foram pensados e estudados para a diversidade e inclusão. São fruto de estudos com cada grupo de pertencimento”, lembra Camilla.
Para a executiva, o desafio atual é que o modelo seja utilizado para a contratação de lideranças – e não apenas para cargos abaixo de gerência. “Este movimento já está acontecendo: no Hospital Sírio Libanês, por exemplo, trouxemos mulheres e pessoas trans para cargos de liderança”, comemora.
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