A COP 27 jogou luz no protagonismo empresarial para que fazer a descarbonização acontecer de fato. Centenas de CEOs desembarcaram no Egito prontos para apresentar suas contribuições e metas de trabalho – até porque o mercado não parece disposto a esperar mais. É o que acredita Carlos Almiro, head de Sustentabilidade e Gestão de Riscos, da BRK, que esteve presente na maior conferência climática do mundo.
“Na COP as empresas estavam lá para reiterar este protagonismo, acompanhar esta agenda de forma propositiva, ou seja, a partir de um olhar para que o setor empresarial seja um agente de mudanças, estar à frente das decisões, compartilhar iniciativas”.
Carlos Almiro lembrou ainda que o setor privado, pela primeira vez na história, está pressionando de forma contundente o Estado para que haja uma aceleração da regulação do mercado de carbono. “Isso é emblemático”, comentou.
Na entrevista a seguir, o executivo fala da participação empresarial na COP 27, das metas da BRK, e das expectativas do setor para os resultados práticos da conferência.
NETZERO: Qual a sua avaliação da participação brasileira nesta COP?
CARLOS ALMIRO: Nas ultimas COPs que o Brasil participou estávamos de cabeça baixa. O Brasil que sempre foi protagonista foi perdendo espaço e representatividade. Agora já podemos ouvir dos stakeholders uma expectativa muito grande do país retornar para esta agenda da qual jamais poderia ter saído. No âmbito global das negociações da COP, a justiça climática tem dominado as discussões, com um possível financiamento para os países em desenvolvimento. A Africa, por exemplo, é o continente que mais padece com o aquecimento global, apesar de emitir muito pouco. É uma conta desigual. Portanto, aqui há um debate sobre o financiamento climático, um debate controverso. E também espera-se que seja uma COP de implementação, de arregaçar as mangas.
Qual o papel do setor privado nestas implementações?
O tecido empresarial tem nas mãos o protagonismo – conseguimos perceber que as principais medidas recentes de mitigação saíram das empresas. Na ausência de políticas públicas, o setor privado vem se movimentando, você vê o agro se mexendo. São iniciativas muito consideráveis, seja para a redução de emissões, seja para a conservação de biomas.
No caso do mercado de carbono, pela primeira vez na história você vê o setor empresarial pressionando o Estado para ser regulado. Nós, da BRK, por exemplo, enviamos, junto com o CEBDS uma série de cartas ao governo pedindo para acelerar esta regulação. Isso é emblemático.
Existe uma necessidade de regulação para que este mercado possa crescer de maneira saudável.
Na COP, as empresas estão presentes para reiterar este protagonismo, acompanhar esta agenda de forma propositiva, ou seja, a partir de um olhar para que o setor empresarial seja um agente de mudanças, compartilhar iniciativas com stakeholders. Na BRK, passamos um ano dando robustez à nossa agenda de clima. Agora queremos ouvir outras experiências na COP. Vamos falar sobre nosso trabalho voltado a oceanos, queremos também saber sobre mecanismos financeiros disponíveis para dialogar com investidores a respeito de critérios ESG.
Falando em ESG, como você viu a importância desta agenda na COP?
Eu vejo que não há mais espaço para dourar a pílula, fazer greenwashing ou apenas marketing. O mercado não tolera mais isso.
Dada a avalanche ESG, a COP é um ambiente em que iremos reafirmar quem de fato está caminhando nessa agenda sólida e quem está fazendo apenas propaganda. Antigamente, a empresa ia até lá, apresentava uma meta e, depois, se batia ou não, ninguém se importava. Hoje não. Existe uma cobrança. É preciso apresentar métricas baseadas na ciência. Caso contrário, seus esforços não valem nada. Ou seja: ambientes como este da COP acabam filtrando quem está de brincadeira e quem está trabalhando sério.
E como estão as metas da BRK?
Nossas metas de clima são: net zero até 2040. 30% de redução de emissões até 2030 e 10% até 2025. Estas metas estão publicadas em nosso inventário. Agora estamos mergulhados nas ações que precisamos fazer para atingir estes objetivos. Entre eles, destaco a redução da perda de água: queremos chegar a uma redução de 25% até 2030 e reduzir 70% da energia consumida no mesmo ano.
Fiquei na Amazônia por uma semana e isso fixou na minha mente o seguinte: nenhuma medida deve ser a tomada sem que a gente olhe o aspecto social do entorno. Na região amazônica há 26 milhões de pessoas. Boa parte delas em situação de extrema pobreza. Não há solução para o ecossistema sem políticas de inclusão social.
Não adianta falar que vou levar o saneamento básico num lugar com desemprego brutal – vai ser difícil convencer as pessoas que não tem o que comer que o esgoto é importante. Portanto, precisamos olhar para a miséria, para questões sociais urgentes.
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