MRV&CO investe em educação e quer zerar o número de trabalhadores analfabetos em seus canteiros de obras

Uma meta ambiciosa: zerar o número de analfabetos entre os trabalhadores de obras. Esta foi a primeira ideia do projeto chamado Escola Nota 10, criado pela MRV&CO, em 2011. Doze anos depois, os resultados parecem ter ido além do lápis e papel: houve um resgate da autoestima dos funcionários e os acidentes de trabalho, ponto sensível do setor de construção civil, diminuíram.

“Os trabalhadores da construção civil são pessoas com nível de formação e oportunidades muito baixos. O analfabetismo é muito alto. Não podemos virar as costas para eles”, explica Raphael Lafetá, diretor executivo de Relações Institucionais e Sustentabilidade da companhia.

“Acabar com o analfabetismo dentro da MRV é uma meta meio utópica, um sonho talvez. A meta factível é estar com esse trabalhador que não teve acesso à educação formal dentro da sala de aula”.

A ideia do Escola Nota 10 começou com iniciativas isoladas dentro da MRV. Ao chegar na companhia, Lafetá recebeu de Rubens Menin, co-fundador da MRV, a missão de desenvolver o projeto. Durante este tempo, a iniciativa já implantou 180 turmas nos canteiros de obras em todo o Brasil e formou mais de 4.800 alunos em cursos de alfabetização, capacitação e informática.

As aulas acontecem de três a quatro vezes por semana em uma sala de aula montada junto à área de vivência ou em uma parte do refeitório da obra. Já são mais de R$ 4 milhões de investimento, sendo mais de R$ 466 mil só em 2022. O principal parceiro hoje é a Alicerce, empresa que atua com educação de jovens adultos. São 34 escolas em andamento, com quase 600 alunos em formação e capacitação.

“As aulas começam, preferencialmente, no início do dia porque o trabalhador está com a cabeça descansada para aprender e se concentrar. É um investimento no horário produtivo dele para a alfabetização ou capacitação. Isso faz muita diferença. A aprendizagem deve ser a coisa mais importante da vida dessas pessoas”.

SEGURANÇA DO TRABALHO

O Brasil é o quarto país do mundo em número de acidentes de trabalho, só perdendo para China, Índia e Indonésia, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho, a taxa de mortalidade no trabalho no Brasil é de 5,21 mortes para cada 100 mil vínculos. Na construção civil, a taxa chega a 11,76 casos para cada grupo de 100 mil. As principais causas desses acidentes são impactos com objetos, quedas, choques elétricos e soterramento ou desmoronamento.

Segundo Lafetá, além do resgate da cidadania do trabalhador com a leitura e escrita, conforme o projeto avançava, a empresa notou uma redução no número de acidentes de trabalho, um dos pontos mais sensíveis do setor.

“Nós temos retorno imediato nesse projeto, desde a facilidade de comunicação com essa turma e, a partir daí, o aumento de produtividade, e temos ainda uma redução no número de acidentes de trabalho em função da compreensão dos avisos e alertas, ou seja, a pessoa começa a interagir com o mundo da obra de outra forma, não só pela audição, mas com a visão, lendo as placas e entendendo as informações”.

AGENDA ESG

Em 2019, a Escola Nota 10 foi um dos três projetos da companhia reconhecidos no relatório da ONU sobre iniciativas empresariais. Para Lafetá, um dos motivos do bom desempenho e reconhecimento do projeto é ser algo “genuíno”, criado dentro da empresa pela preocupação com o outro. “É muito mais uma ação que vem de dentro para fora, em sua forma genuína, e não uma cobrança de fora para dentro”.

Segundo o executivo, empresas e líderes sérios sempre se preocuparam com o meio ambiente, em produzir sem poluir, com responsabilidade social, ter um olhar para os seus colaboradores, para a comunidade onde estão inseridos, e para as mazelas do mercado onde atuam.

“Hoje estamos sendo mais cobrados. Os dirigentes e colaboradores de cada empresa é que fazem a mudança acontecer ao despertar para algo maior que não somente o trabalho e lucro ou o pensamento de apenas vender”.


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