Você se considera feliz no seu trabalho? A resposta para esta pergunta marota – e tão subjetiva que muitos dirão, com certa dose de ironia, que vale 1 milhão de dólares – tornou-se o objetivo do “Felicitômetro”, métrica criada pela Edenred Brasil para acompanhar os sentimentos de seus 1.360 colaboradores.
A ferramenta vem sendo usada pela linha de negócios de Frota e Mobilidade da Edenred Brasil, empresa global e digital de serviços de meios de pagamento, composta pelas marcas Ticket Log e Repom, desde agosto do ano passado. Trata-se de um questionário aplicado trimestralmente baseado nos pilares da psicologia positiva.
“Não estamos medindo para obter um resultado lindo de 100% de felicidade todo mês. É importante entender que a jornada de felicidade está atrelada ao longo prazo. E que a frustração vai acontecer. O desafio é como lidar com isso para que tenhamos algo sustentável”, explica Lívia Alves, diretora de Recursos Humanos de Frota e Mobilidade da Edenred Brasil.
Ninguém é obrigado a responder ao questionário, que é anônimo e confidencial. Entretanto, 70% dos colaboradores aceitaram participar. Lívia afirma que as respostas tem ajudado a empresa a detectar problemas, criar soluções em conjunto, escolher o foco de ações e desenhar estratégias.
Na entrevista a seguir, a executiva conta quais os métodos que a empresa decidiu adotar, a importância de acompanhar de perto os sentimentos dos colaboradores e por que a felicidade dentro do ambiente corporativo não é algo misterioso e inacessível. Afinal, se passamos a maior parte do tempo de nossas vidas no trabalho, é preciso não ter a vergonha de ser feliz.
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NETZERO: É possível mesmo medir felicidade?
LÍVIA ALVES:
Com certeza. Aqui na Edenred nós sempre medimos o engajamento, algo mensurável, sim. Entretanto, sentimos a necessidade de ir além: com o engajamento você só consegue ver o imediato, o agora. Ao entender a jornada da felicidade, percebemos ela está atrelada ao longo prazo. Isso significa que é preciso lidar com frustração a curto prazo. Então passamos a conhecer melhor este tempo de medida, que é diferente. No início, pensamos em fazer esta medição todo mês – depois entendemos que precisamos mesmo de um tempo para aplicar, medir, avaliar, assimilar e evoluir. Não estamos medindo para obter um resultado lindo de 100% de felicidade todo mês – se fosse assim, acharíamos algo estranho. Temos que acompanhar os sentimentos a longo prazo para conseguir, inclusive, sustentar as pessoas aqui dentro. Não é ser feliz 100% do tempo. É como lidar quando algo não está legal para que amanhã tenhamos um sistema sustentável.
E como funciona este método?
Em primeiro lugar, precisamos olhar para as especificidades de nossos colaboradores, entender cada pessoa que está aqui dentro. Sem este olhar, não construiremos o nosso jeito de ser e não vamos acompanhar o crescimento do negócio. Nós sempre estivemos focados na satisfação do cliente – contudo, se olho para o cliente, preciso também olhar para o colaborador. Caseiramente passamos a pesquisar, e, certo dia área interna, trouxe a ideia: E se a gente medir a felicidade? Qual metodologia usaríamos? Chegamos, então, ao conceito da psicologia positiva e buscamos um parceiro no mercado para construir esta metodologia do que chamamos de “Felicitômetro”. Chama-se PERMA. P (emoções positivas); E (engajamento); R (relações positivas dentro de casa e fora); M: (vida com propósito e significado); A (realizações e conquistas do dia a dia que trazem orgulho). Elaboramos um questionário com 15 perguntas relacionadas a estas letras. Uma última questão sempre pergunta o quanto a pessoa recomenda a empresa. Construímos uma jornada trimestral. Nós criamos um método recente e ainda estamos aprendendo com ele.
Quais os desafios que vocês estão enfrentando?
As dificuldades não estão nas perguntas – e sim nas ações que vamos fazer a partir das respostas. Este é o principal desafio. O questionário é anônimo e confidencial. E não é obrigatório. Mesmo assim já temos 70% de adesão, o que é um bom índice. Com os resultados, preparamos toda a nossa liderança, que recebeu treinamento e capacitação em relação ao tema felicidade. Cada um recebe a missão de desenhar um plano de ação para sua área. Estamos empoderando os líderes para que eles interpretem resultados, trabalhem com suas equipes. Trata-se de uma relação de confiança que precisa ser estabelecida: sem este ambiente as pessoas não vão falar o que realmente está acontecendo. Nosso público é muito crítico e está engajado em colaborar. Cada um tem que fazer parte da solução: trabalhar em conjunto para melhorar o que não está legal.
Vocês se surpreenderam com algum resultado?
Não tivemos nenhuma surpresa, pois a gente já media o engajamento anteriormente. O que tem acontecido é que, a partir do resultado, escolhemos o foco e as prioridades das ações. Por exemplo: percebemos uma necessidade de olhar mais para a saúde mental das pessoas. Isso não é uma novidade, o questionário apenas reforçou que esta deve ser uma prioridade. Sem o “Felicitômetro”, talvez, eu não focasse tanto nisso agora.
As pessoas têm coragem de mostrar suas fragilidades ao seu empregador?
A privacidade – e a possibilidade do anonimato – ajudam demais. Temos um canal em que as pessoas podem acessar e obter suportes psicológico, jurídico e financeiro. Percebemos que o número de acesso deste canal tem aumentado muito. Reforçamos a comunicação para as pessoas chegarem a estes canais. Além disso, temos outras formas de olhar para questões pessoais. Aumentamos os talks para falarmos sobre saúde mental, por exemplo: palestras sobre vários temas, desde violência doméstica até o equilíbrio da mente, pausas no meio do dia.
Cada vez mais buscamos formas de antecipar os problemas que já estão aí. Não queremos que a pessoa se afaste para cuidar sozinha de algo que podemos cuidar juntos.
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